Pela terceira vez consecutiva, estudantes da Universidade de Michigan (Estados Unidos) visitaram a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) para discutir o
Prison Creative Arts Project (PCAP). Desde 2016 os estudantes, junto da professora e coordenadora do projeto Ashley Lucas, mantêm contato direto com o professor do Departamento de Artes Cênicas (DAC) Vicente Concilio, que também desenvolve um projeto com o mesmo tema, o de ensinar arte nas prisões em Florianópolis. Com o professor, visitaram neste ano o presídio feminino da Trindade, na capital catarinense, e debateram o tema com o secretário de Justiça e Cidadania de Santa Catarina.
Na semana do dia 21 a 28 de maio o grupo de 13 estudantes de Michigan mobilizou o curso de Teatro, participando tanto de aulas, quanto de visitas à cidade. Para apresentar o
PCAP, a professora Ashley Lucas realizou uma palestra bilíngue (em português e inglês) no auditório do Centro de Artes (Ceart) sobre a história do projeto. O PCAP foi criado em Michigan para levar a arte para penitenciárias masculinas e femininas, como o ensino de artes visuais, teatro, música, fotografias e literatura.
Durante a feira de arte impressa,
Parque Gráfico, que foi realizada na Udesc Ceart do dia 18 a 20 de maio, o PCAP expôs obras de arte desenvolvidas em Michigan por pessoas que vivem no encarceramento. As obras exibidas integram a Exposição Anual de Arte do PCAP, que acontece em Michigan reunindo em torno de 600 pinturas e fotografias.
O último dia de atividades dos estudantes na Udesc foi marcado pela performance “
Pedra, Papel e Tesoura”, de uma das estudantes de Michigan na Udesc Ceart. A apresentação consistia em falar sobre as diferenças entre lutas de classes das minorias, como a mulher negra e lésbica. Depois da apresentação foi realizada uma discussão entre estudantes da Udesc e de Michigan sobre os temas que foram abordados.
Para marcar a presença do PCAP em Florianópolis, o professor Vicente Concilio e Ashley Lucas estiveram em reunião com o secretário de Justiça e Cidadania de Santa Catarina, Leandro Lima, no dia 22 de maio. O encontro serviu para discutir projetos da área de ensino de artes nas prisões. Sobre a reunião Ashley conta que "foi muito benéfica, porque quando falamos do projeto para o secretário, ele se mostrou animado com a ideia de levar o ensino de arte como uma alternativa de mudança."
Também na última semana, os estudantes de e Michigan da Udesc Ceart puderam conhecer o interior da penitenciária feminina de Florianópolis, na Trindade. Uche Nna e Aly Gonzales eram duas estudantes dos Estados Unidos presentes na visita, ambas acreditam que a participação da universidade nas penitenciárias mantém a pessoa integrada à sociedade. Aly comenta que “queria ter feito uma oficina com as detentas, pois é o que geralmente fazemos quando as visitamos”.
Ainda que desta vez não estivesse programado para que acontecesse atividades, Uche conta que as pessoas que estão presas, em Michigan, não têm muitas oportunidades de reintegração quando são soltas, e o PCAP leva, através da arte, essa integração. Em Michigan, a estudante participou de atividades em pentienciárias masculinas e está pela primeira vez em Florianópolis. “Algo que me surpreendeu, no Brasil, é que os presidiários podem sair da prisão [em regime semiaberto], para estudar, estar com familiares e até trabalhar fora do presídio”, finaliza Uche.
Ashley concorda com as estudantes ao relatar a importância de levar a vida acadêmica para dentro das penitenciárias. Em contrapartida, a professora comenta que existem muitas diferenças entre o sitema prisional brasileiro e o dos Estados Unidos, e afirma que não devem ser vistas como moldes de comparação pois são realidades diferentes.
Dando repercussão a esse trabalho, o professor da Udesc Ceart, Vicente Concilio desenvolve com o estudante do mestrado Yuri Lima Cabral, aulas semanais de Teatro com as reeducandas da penitenciária de Florianópolis. “Juntos vamos construir uma peça que será apresentada em uma Mostra Nacional, que está sendo organizada pela secretaria de Justiça e Cidadania de Santa Catarina”, comenta Vicente.
Conheça mais sobre a história do projeto
O Prison Creative Arts Project (PCAP) começou em Michigan enquanto a professora Ashley Lucas estava finalizando o seu doutorado em teatro na mesma universidade, em 1990. “O PCAP foi uma iniciativa do professor Buzz Alexander, que me chamou logo após abrir o projeto”, afirma a docente. A professora e atual diretora do PCAP, natural do Texas, teve seu pai preso por 20 anos e conviveu com o encarceramento de seu familiar até o ano de 2014.
[Veja entrevista na revista Urdimento de outubro de 2017]
Com o tempo o projeto cresceu a ponto de envolver estudantes brasileiros que estavam de intercâmbio pela Universidade de Michigan. “Lembro que me chamaram para mostrar o projeto para os estudantes da Unirio [Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro] e desde então mantemos este contato com a universidade”.
Participando de uma conferência sobre o tema no Rio de Janeiro, Ashley conheceu o professor Vicente Concilio e o ouviu sobre o seu projeto de ensinar teatro nas penitenciárias de Florianópolis, por meio do programa de extensão Pedagogia do Teatro e Processos de Criação. No ano seguinte, em 2016, foi organizada a primeira visita dos estudantes de Michigan à Udesc. “Desde então eu e meus alunos, após fazermos a visita à Unirio, viemos até Florianópolis”, conta Ashley. No início deste ano foi a primeira vez que o professor Vicente, acompanhado da estudante de Teatro Naguissa Takemoto, foram até Michigan como visitantes do Programa Artes nas Prisões.
Esta reportagem foi apurada e escrita pela estagiária de Jornalismo do setor, Linda Inês Pereira Lima, sob supervisão e edição da jornalista Laís Moser
Assessoria de Comunicação da Udesc Ceart
E-mail: comunicacao.ceart@udesc.br
Telefone: (48) 3664-8350
