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Entre março e abril deste ano, o professor do Departamento de Artes Cênicas (DAC) Vicente Concilio e as doutorandas Laís Jacques Marques e Caroline Vetori estiveram na Universidade de Michigan (Umich), nos Estados Unidos, para acompanhar um projeto de artes criativas nas prisões. Fundado em 1990, o Prison Creative Arts Project (PCAP) tem como objetivo levar arte a pessoas privadas de liberdade por meio da dança, música, teatro, literatura e artes visuais.

A parceria entre o Centro de Artes, Design e Moda (Ceart) da Udesc e a Umich já acontece há nove anos, com intercâmbios e produções parceiras. Essa é a terceira vez que a Udesc acompanha o projeto, e a ida do trio foi financiada pela universidade americana devido à parceria com o programa de extensão Pedagogia do Teatro e Processos de Criação, além do grupo de pesquisa Práticas de Infiltrações das Artes Cênicas em espaços de vigilância, coordenado pelo professor Vicente.

O intercâmbio foi realizado entre 18 de março e 5 de abril, sendo que o docente permaneceu nos Estados Unidos por duas semanas e as estudantes, por uma semana. Nesse período, o grupo pôde conhecer as ações realizadas pelo PCAP a convite da professora Ashley Lucas, coordenadora do projeto. “Foram três semanas muito intensas, conhecemos muitas iniciativas interessantes. Essas atividades ajudam a estreitar os laços da parceria com o projeto da Umich e a compreender a estrutura do encarceramento estadunidense, observar semelhanças e diferenças com o daqui”, relata Vicente Concilio. 

O grupo acompanhou diversas atividades do projeto, como: visitas a prisões estadunidenses; a abertura de uma exposição de Artes Visuais feita por apenados; a disciplina Teatro Encarceramento, na qual estudantes ministram aulas em prisões locais; além do lançamento de uma revista (journal) com poemas, contos e ensaios de pessoas privadas de liberdade.

Os brasileiros também participaram da abertura da 28ª edição da exibição anual dos artistas aprisionados de Michigan, realizada em 19 de março e organizada pelo PCAP. A exposição conta com pinturas, esculturas, desenhos, crochês e outros trabalhos. As obras ficam à venda e todo dinheiro obtido retorna ao presídio para a compra de mais materiais de arte. Vicente conta que a visita guiada pela curadora da exibição “fez questionar nossa concepção de arte. Pudemos analisar obras de pessoas em presídios de segurança máxima, que muitas vezes foram realizadas em lugares com acesso muito restrito a materiais”.

Durante o intercâmbio, o trio também pôde assistir o espetáculo “With Love, From Inside”, em português “Com amor, de dentro”, que entra em turnê em Michigan no mês de maio. A peça foi produzida pelos estudantes que coordenam as oficinas de teatro nas prisões do estado, com cenas criadas a partir de relatos coletados dentro das unidades e de sobreviventes do sistema carcerário. Vicente descreve a peça como “emocionante, celebra a vida e os sonhos de quem vive lá dentro e trata com humor e afeto as narrativas compartilhadas”.

O professor destaca que “fazer arte na prisão é um trabalho muito solitário, então ter essa troca de referências e de experiências com lugares que também fazem isso, é muito bacana”. Vicente complementa: “Essa oportunidade do intercâmbio faz com que a gente observe outras práticas e reflita sobre o que a gente faz aqui”.

Após finalizadas as atividades com o projeto, o professor do DAC passou mais duas semanas no estado ministrando aulas para os estudantes da Umich sobre temas como o Teatro do Oprimido, e acompanhando as ações do Telling It, outro projeto que une arte em contextos comunitários e atua nos centros de detenção juvenil e em escolas. Vicente conta que o grupo estadunidense tem muito interesse pelo Teatro do Oprimido, do dramaturgo Augusto Boal, e pela Pedagogia do Oprimido, do educador Paulo Freire, duas referências importantes para o teatro brasileiro.


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