Gustavo Ioschpe, Especialista em economia da educação, com mestrado pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, em artigo publicado na Revista Veja, de 7 de março, resume a tese, com objetividade matemática, que aponta os problemas da educação no Brasil.
No artigo são resumidos os quatro mitos, que emperram a escola brasileira e impedem a melhoria na qualidade do ensino, além de manter o Brasil nos últimos lugares de todos os exames e testes internacionais de conhecimento.
O primeiro mito quebrado pela pesquisa é o de que o salário do professor brasileiro seja baixo. O segundo, é a tese de que educação só irá melhorar quando o professor receber salário mais alto.
A falta de investimento em educação é apontado como o terceiro mito; e a excelência do ensino nas escolas particular o último.
Ioschpe baseou sua pesquisa em dados do MEC e de entidades internacionais com a Unesco e a OCDE – Organização formada pelos países da Europa e Estados Unidos e constatou que, na verdade, o problema do Brasil é a má qualidade da formação dos professores e a má gestão dos recursos destinados ao setor.
Segundo o pesquisador, os professores brasileiros saem das universidades com uma mentalidade equivocada do que é prioritário proporcionar aos alunos. “Apenas 9% consideram prioritário proporcionar conhecimentos básicos aos alunos, a maioria prefere formar cidadãos conscientes”, registrou uma pesquisa da UNESCO.
Então, qual seria a saída? Talvez a experiência internacional possa nos ajudar. Nos Estados Unidos, conforme reportagem publicada pelo Jornal da Educação nas edições de maio e junho de 2006, os professores são todos bacharéis que precisam fazer um curso de mestre, com duração de cerca de dois anos (uma espécie de especialização). Além deste curso, é preciso ser aprovado num teste aplicado pelo governo e então, por méritos pessoais demonstrados durante o período de estágio obrigatório, o professor poderá ser contratado por alguma escola pública.
Uma pesquisa realizada em 2003, na região de atuação do Jornal da Educação (31 municípios de SC) demonstrou que mais de 70% dos professores têm curso de licenciatura plena e 30% possuía também curso de especialização.
A mesma situação se aplica ao conjunto de professores do Brasil, o que pode ser constatado nas pesquisas feitas pelo MEC. Entretanto, apesar de formados, os professores não têm conseguido melhorar a qualidade do ensino, falta-lhes o essencial, o conhecimento do que e como ensinar.
Os resultados do Saeb, do Enem e do Enade comprovam a queda na qualidade do ensino nos últimos dez anos, quando os professores, em sua maioria, complementaram estudos.
As pesquisas efetivadas por Ioschpe reforçam a constatação de pesquisas anteriores de que o problema da educação brasileira também não está na falta de investimento do governo, mas na gestão inadequada destes recursos.
A falta de qualidade dos cursos superiores do Brasil, e não somente dos cursos de licenciatura, são tema de discussão há anos. Ao longo dos tempos, são centenas de milhares de bacharéis em Direito que jamais conseguem passar no teste a OAB.
Outros milhares de portadores de diplomas de licenciaturas são reprovados constantemente em concursos (e continuam na sala de aula como ACTs).
Afinal, será que o problema da educação brasileira precisa ser resolvido exclusivamente pelas escolas de ensino superior? Podemos mesmo jogar toda a responsabilidade sobre aqueles que pesquisam, denunciam, constatam e discutem incessantemente o problema?
Seguramente, seria necessário muito mais do que um conjunto de reportagens e pesquisas para afirmar tal coisa, mas seria um bom começo os Mestres e Doutores, responsáveis pela formação de nossos professores, assumirem boa parte da culpa pela péssima qualidade do ensino oferecido às crianças e jovens brasileiros.
Entretanto, seria muito bom se todos os professores em atuação nas salas de aula, fossem chamados a retornar às universidades e, gratuitamente, complementar sua formação e efetivamente aprender o quê e como ensinar.
Antes de mais nada, os profesores precisariam aprender que ser cidadão, antes de tudo, é dominar o mínimo do conhecimento construído pela humanidade ao longo de sua história.
Afinal, é exatamente o conhecimento científico e a capacidade de registrar e difundir este conhecimento, que nos diferencia dos demais seres vivos.