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Jornal da Educação

Opinião do Jornal (Edição Maio/2007)

Professor, o quê você quer ser quando crescer?

Osmar Emídio de Bezerra é catador de coco do Vale do Rio São Francisco, localizado entre Pernambuco e Bahia. Ele tem pés e mãos calejados e revelou, o que deseja para o futuro dos filhos: “Dizem que um pobre não pode sonhar muito alto, mas eu queria que pelo menos um deles chegasse a ser professor. Se todos três fossem professores estava bom demais para mim”. A afirmação de Osmar ao programa Globo Repórter no dia 18 de maio, seguramente, doeu aos ouvidos de muitos professores pelo Brasil afora.

     A imobilidade social no Brasil chega ao ponto de transformar a profissão de professor em sonho distante para os trabalhadores. E, professor é profissão dos sonhos dos pobres, então todo professor é ou era pobre? É a pergunta que muitos devem ter se feito naquele exato momento.

     Se voltarmos à década de 50, descobriremos que até aquela data, a profissão era exercida por homens e pelas filhas dos grandes fazendeiros ou dos detentores do capital. Aliás, a única profissão possível para as mulheres nas décadas de 50 e 60. Período em que o status da profissão estava no mesmo patamar que a de um médico, advogado, ou engenheiro.

     Este fato histórico remete a outro questionamento: a profissão perdeu o status porque tornou-se “feminina”? Fato constatado por uma pesquisa realizada em 2003, a qual revelou que 80% dos profissionais da educação da região de atuação do Jornal da Educação (31 municípios catarinenses), são mulheres.  Ou foi abandona pelos homens porque perdeu o status e a remuneração?

     A inclusão de todas as crianças brasileiras no sistema escolar e também de professoras para atender a estas crianças, teria provocado a queda da remuneração e a “debandada” dos homens da sala de aula; ou as mulheres, ao estudarem mais, conseguiram conquistar as vagas até então ocupadas por homens no magistério?
Estas são perguntas ainda sem resposta, pesquisas a serem feitas. Mas, via de regra, os homens foram abandonando o magistério básico e ingressando nas universidades, onde se ganha bem melhor. E a profissão perdeu seu status, na mesma velocidade com que o ensino, nas escolas públicas e até mesma nas particulares, perdeu sua qualidade.

     Afinal, os salários dos professores são baixos porque ele desempenha mal seu papel na sociedade capitalista que o remunera, ou a qualidade do ensino é baixa porque os professores ganham pouco? A mesma regra pode se aplicar ao status da profissão, será que ele foi descendo juntamente com os salários dos profissionais?
Vale sempre lembrar que o tempo de estudo, a energia, e principalmente as conseqüências para a sociedade, da má formação dos professores, podem ser equiparados as dos profissionais da área de saúde, engenharia e direito, mas o salário e o status da profissão, nem de longe se parecem.  

     O desejo do trabalhador rural revela a situação quase vexatória, do ponto de vista econômico e de mobilidade social alcançada pelo profissional da educação no Brasil. Podemos concluir que ser professor é o primeiro patamar, uma espécie de meio do caminho profissional. Se melhorar, o brasileiro pobre poderá ser um profissional de outra área qualquer. Para a sociedade brasileira, professor é uma ocupação que os menos favorecidos intelectual e economicamente podem exercer, até encontrar ou se tornarem melhor, para então exercer outra profissão. 

     E talvez não possamos esperar muito além disso. Afinal, talvez e apenas talvez, em quatro anos, o professor brasileiro poderá ter um piso salarial de R$ 850,00 como propõe o governo, em seu Plano de Desenvolvimento da Educação.  Precisa acrescentar algo para se prever o futuro do professor no Brasil?

 
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