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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Opinião do Jornal (Edição Setembro/2007)

Escola não está “civilizando”

Entre minhas lembranças da infância, lembro-me de quando, ainda trabalhava na roça e ao contrapor alguma idéia, às de meu pai, ou dar alguma opinião durante uma conversa entre adultos; a resposta vinha imediatamente de meu pai, que perguntava, “o que tu tá aprendendo na escola?”

     Para ele, pai de seis filhos, operário ganhando salário minimo, agricultor de subsistência para sustentar os filhos e estudante do Mobral, a escola estava deseducando. Pois, nós crianças não sabíamos mais respeitar a conversa e o espaço , dos mais velhos.

     Na adolescência não foi diferente. Em meio às negativas para ir à festinhas americanas na casa de amigos ou na discoteque no domingo à tarde, lá vinha a pergunta e a acusação de que a escola não cumpria seu papel.

     Hoje, quando o Brasil já percorreu a sua Década da Educação, estabelecida pela LEI Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, ou a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação -LDB, constatamos que a escola continua deixando de cumprir seu papel e já se passaram mais de 30 anos do tempo em que meu pai queria saber o que eu aprendia na escola.

     Os números mostram melhorias na eduçação brasileira, do ponto de vista dos governantes. Entre elas, estaria a universalização do Ensino Fundamental, com quase 100% de nossas crianças de 6 a 14 anos na escola. Entretanto, nunca se falou tanto em violência e agressividade na escola e na sociedade, mesmo entre os próprios jovens. Neste ponto, teremos que concordar com nossos pais: há alguma coisa errada com a escola.

     Historicamente, baseamos nossos estudos sobre a violência, atribuíndo-a  à natureza humana. Ao mesmo tempo, a sociedade criou a escola, que tem entre suas inúmeras finalidades, mostrar como o mundo civilizado e humanizador é melhor para nós, nossos filhos, descendentes e todas os demais integrantes da raça, dita humana.

     Cabe à escola e a outras instituições sociais, fazer com que o ser humano se sinta parte importante da sociedade em que vive e deve modificar para melhor, convivendo com seus pares em harmonia, enfim, cabe à escola construir a sociedade humana.

     Entretanto, no Brasil de 2007, as notícias, pesquisas e levantamentos mostram que aumentou a violência nas escolas, tanto entre os próprios alunos, como entre estes e os professores e demais trabalhadores da educação. Estaríamos, então, num beco sem saída? Sempre acreditamos que ao aprimorar a “natureza humana” com o convívio social e os conhecimentos civilizatórios, construiríamos uma sociedade de paz.

     Os números e ações do dia-a-dia das escolas, mostra o aumento vertiginoso  da  violência, da agressividade física e verbal. Será que a escola está fazendo o papel inverso: deseducando, como já questionava meu pai?

     Ou será que os conhecimento produzidos pela humanidade afloram, cada vez mais, a natureza selvagem e violenta do homem contra seus semelhantes.

     Contraditoriamente, ao mesmo tempo que superprotegemos nossas crianças dando-lhe muitos direitos e poucos deveres, privilegiamos a criatividade em detrimento do conhecimento, protegemos cada vez mais os animais e o meio ambiente, estamos deixando de educar nossas criança para o respeito e admiração do ser humano civilizado.

     Já é momento de começarmos a descobrir em que ponto estamos errando. Não podemos admitir que ao mesmo tempo em que as crianças estão mais tempo nas escolas, tanto em quantidade de horas diárias, quanto em dias letivos, a violência possa aumentar tanto.

     Hoje, a escola distribui material escolar, uniforme, transporta e cuida das crianças, muitas vezes, durante todo o dia, e a violência tanto na escola, quanto na sociedade, está aumentando.

     Será que estamos apenas aprimorando a natureza selvagem de nossas crianças? Respeitando além da medida seus direitos e esquecendo de mostrar e fazer com que cumpram suas obrigações, pois estas são essenciais para a manutenção da vida em sociedade?

     Ou deixaremos que a natureza selvagem do ser humano se sobreponha à determinação civilizatória de nossa raça?

     Nossas crianças vão para a escola para aprender a controlar e superar seus impulsos agressivos, mas nem isso, a escola não está conseguindo ensinar isso.

 
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