A comissão composta por lideranças empresariais, educacionais e políticas que coordena a implantação de um campus da Universidade Federal de Santa Catarina em Joinville anunciou a implantação somente de cursos de engenharia e de alta tecnologia.
O Reitor da UFSC, Professor Lúcio José Botelho, explica que nenhum curso de licenciatura será implantado na cidade, pois trata-se de um novo projeto, de implantar um campus temático voltado à vocação da região.
Botelho informou ainda que os cursos de licenciatura estão contemplados "num grande projeto" do MEC, denominado Universidade Aberta, na qual os cursos são a distância.
Dentro deste projeto, estão em andamento, no pólo de Joinville, os cursos de licenciatura em Matemática e Física para professores que já atuam em sala de aula. No Campus Temático de Joinville serão ministrados cursos de engenharia e não haverá um único curso de licenciatura.
O novo campus deve funcionar a partir de 2009, com vestibular já em 2008, e o jovem que optar por ser professor, precisará continuar pagando mensalidades na faixa de R$ 500,00 nas escolas particulares de ensino superior da região.
Além disso, a proposta é reservar 50% das vagas do novo campus para estudantes de escolas públicas. Ou seja, além de estudar de graça, a chance de quem optar pelas engenharias totalmente voltadas ao mercado de trabalho industrial, será ainda mais facilitada.
O que se quer saber e perguntar às autoridades responsáveis por tais decisões é, qual jovem irá optar pela profissão de professor em detrimento da de engenheiro diante de tanto incentivo?
Numa região em que a falta de educação básica de qualidade compromete até mesmo a produção industrial, é dispensável a interferência de vidente para saber que em pouco mais de cinco ou seis anos, toda a região vivenciará ainda mais a falta de professores.
No mês em que se festeja o Dia do Professor e é reforçada ainda mais a necessidade de melhorar a qualidade de sua formação. E que os profissionais que ainda estão em sala de aula, em boa parte gostariam de trocar de profissão, evitando as agressões verbais, morais e por vezes física, cada vez em maior número, por parte inclusive dos alunos; somos obrigados a registrar a preocupação com o futuro de todas as demais profissões.
Afinal, sem professor, não há escola, e sem escola, não há profissionais. Além disso, a má formação do professor é apontada como uma das principais causas da baixa qualidade de ensino oferecido a nossas crianças e adolescentes em todo o país.
E se é nas universidades públicas que se formam os melhores profissionais, não teriam elas que se dedicar quase que exclusivamente à formação dos professores que irão oferecer o ensino básico para todas as profissões.
Já que para seguir adiante no curso universitário, é preciso saber ler, escrever e calcular muito bem, sob pena de desistir no meio do caminho, pois o vestibular é somente o primeiro dos obstáculos a serem superados.
Na região de Joinville, o dinheiro público será investido na formação de profissionais para atuar nas indústrias, enquanto nossa maior carência está exatamente na área educacional.
Em vez de reservar 50% das vagas aos estudantes de escolas públicas, a Universidade Federal de Santa Catarina deveria implementar pesquisas e ações para garantir a nossos jovens, ensino básico de qualidade, que os possibilitasse disputar, em igualdade de condições, 100% das vagas, com seus colegas de escolas particulares, entrando na universidade de cabeça erguida e cheia de conhecimento.
O mais estranho é perceber que a sociedade joinvilense que aceitou pacificamente o fato de não ter, por décadas, uma universidade federal na maior cidade do estado, agora aceita que empresários e autoridades federais escolham até mesmo os cursos a serem oferecidos na cidade.
Os maiores prejudicados serão, novamente, nossos jovens que continuarão a ter aulas de qualidade duvidosa e nossas escolas continuarão a sofrer com a falta de professores.