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Jornal da Educação

Opinião do Jornal 2010

Alunos indisciplinados, má formação e a falta de professores

A falta de professores para atuar em disciplinas específicas das séries finais do Ensino Fundamental  e do Ensino Médio já pode ser considerado um problema crônico no Brasil. O Ministério da Educação, Estados e Municípios já efetivam ações que visam a formar profissionais que já atuam em sala de aula sem a devida formação, para os habilitar em áreas como biologia, física, química, matemática, língua estrangeira (inglês e espanhol), sociologia, educação especial e agora também geografia, artes, música e até mesmo língua portuguesa. 

 

Ou seja, o único nível de ensino em que há professores disponíveis para contratação imediata são as séries iniciais, pois nem mesmo para a educação infantil há professores habilitados aguardando vaga. Isto sem citar a carência de professores nas universidades, nas escolas de jovens e adultos e nos cursos a distância. Mas quais seriam as causas do aprofundamento crescente da falta de professores?

Estudos publicados pelo MEC no início deste ano dão conta de que os candidatos a cursos de licenciatura, inclusive para atuar nas séries iniciais, foram os que tiveram problemas de aprendizagem na educação básica. Ou seja, os estudantes dos cursos de licenciatura, via de regra, tiveram muita dificuldade de aprendizagem e baixo rendimento durante sua formação básica. Podemos inferir, então, que os melhores alunos escolhem outras profissões de nível superior. 

E como teremos educação de qualidade no Brasil se temos os piores alunos da educação básica como professores das novas gerações? Esta situação comprova que a profissão é desprestígiada. 

Desvalorizado e enfrentando a indisciplina dos alunos e a pressão dos  gestores, os bons professores remanescentes estão abandonando a sala de aula. 

Afinal, independente de sua formação básica e das razões que o levaram a escolher a profissão, os licenciados têm formação superior e estão entre os profissionais mais requisitados pela iniciativa privada, independente da área de atuação. Ter nível superior é especialmente importante naquelas empresas em que é preciso efetivamente, saber ler, calcular, trabalhar em equipes e liderar. E, além do mais, o curso superior abre as portas para os cargos públicos concursados. 

Por outro lado, a indisciplina crescente dos alunos, especialmente a partir do 6ºano, tem empurrado, cada vez mais, os professores para fora das salas de aula. Afinal, se não há consciência nas famílias do valor do conhecimento, não há disciplina possível para a  aprendizagem.  

O aluno conversa em sala de aula, não desenvolve atividades, desacata as ordens e regras, insulta e agride verbal e fisicamente o professor e colegas, não leva material para sala, brinca durante a aula, desrespeita professores e funcionários e, muitas vezes é tratado como vítima e superprotegido por supervisores, orientadores e diretores de escola. 

Este é um bom modo de fazê-los continuar sentindo-se acima da lei e não impor limites. Atitude que agrava ainda mais as deficiências na formação iniciada em casa. Ao tentar solucionar os problemas domesticamente (no âmbito da escola), não levando os casos que ultrapassam os limites da indisciplina escolar para a esfera judicial adequada -pois são transgressão à lei e ao Estatuto da Criança e ao Adolescente-ECA, as escolas reforçam nos alunos a sensação de que estão acima da lei, são “os donos do pedaço” e podem fazer o que bem, ou mal quiserem . 

Um bom exemplo do trato adequado às brincadeiras de mau-gosto e agressões aos colegas e profissionais que atuam na escola, é o acontecido com um adolescente de Belo Horizonte que foi condenado pela justiça a pagar uma indenização de R$ 8 mil a uma colega, de 12 anos, por “bullying”.  

Somados, a má formação, a desvalorização social (e salarial) dos professores, a indisciplina crescente dos alunos e a aumento das atribuições à escola  resta pouco, ou quase nada de atrativo, na profissão de professor que já foi uma das mais respeitadas e honradas na sociedade brasileira. 

Desvalorizados pelos “superiores”, desrespeitados pelos alunos e de certa forma considerados dispensáveis pela sociedade, que não dá o devido valor ao conhecimento; boa parte dos professores licenciados estão abandonando a sala de aula para atuar em outras áreas da cadeia produtiva. Optam por empregos nos quais serão melhor remunerados e necessários, mais respeitados pelos colegas, pelos superiores e até mesmo pelos familiares.

A profissão de professor, infelizmente para o Brasil, já não é atrativa nem mesmo para os estudantes do terceiro ano do Ensino Médio. Os únicos cursos em universidades públicas (e gratuitas), em que há vaga sobrando, são os de licenciatura. E pior, a maioria dos estudantes que fazem vestibular para estes cursos querem, na verdade, mudar para outros nos anos seguintes, para os quais não conseguiriam entrar pela via normal de vestibular, pois são bastante disputados.

 
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