O Relatório preliminar do PISA 2009 mostra o Brasil na 53ª posição de um ranking de 65 países. Um total de 470 mil estudantes nascidos em 1993 foram submetidos a provas de conhecimentos em leitura, matemática e ciências.
Os 20 mil estudantes brasileiros tiveram média de 401 pontos de um total de 800, muito abaixo da média internacional de 496 pontos e bastante longe dos 577 conseguidos pelos chineses, os primeiros colocados.
Mas o MEC optou em direcionar a imprensa a divulgar somente os números positivos, aqueles que interessam. O INEP ressaltou a melhora no desempenho do país em relação ao mesmo exame realizado em 2000, quando o país obteve média de 368 pontos. Se a comparação fosse com 2006, teríamos crescido de 384 para 401 pontos, bem menos do que os 33 pontos amplamente ressaltados pelo INEP. Faltou apenas dizer que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) incluiu perguntas consideradas fáceis na prova deste ano.
Ou seja, mais uma vez, a população brasileira é levada a acreditar que está tudo bem. O objetivo provavelmente seja implantar uma tal agenda positiva que tem conseguido acomodar a todos. Então, as autoridades educacionais brasileiras optaram por correr o risco da acomodação. Ou talvez porque enxergar os números da realidade nacional em comparação à internacional seja muito dolorido.
Resultado, continuamos entre os piores, junto com a Jordânia (402), a Colômbia e o Kazaquistão (ambos com 399). Mas festejamos um tal desenvolvimento que não nos eleva a patamar superior algum.
Talvez porque, enquanto estivermos festejando o aumento de 33 pontos, não cobraremos soluções para elevar a média dos estudantes de escolas públicas estaduais e municipais dos 387 pontos, para algo próximo dos 528 obtidos pelos alunos das escolas federais.
Ou, talvez os estudantes de escolas públicas não federais pudessem atingir desempenho semelhante aos das escolas particulares, os 502 pontos. Esta média colocaria o Brasil na 18ª posição, atrás de Macau (508) e à frente da Polônia e da Islândia (com 501).
O mais importante é compreender que se somente estudantes das federais tivessem feito a prova no Brasil, o país estaria na 7ª posição, entre Japão e Canadá.
Gramsci já registrou que “é verdade que a educação pode ser programada em diversos planos a fim de obter diversos níveis”. Então, podemos concluir que as autoridades educacionais brasileiras optaram por fazer exatamente isso.
Alguém poderia dizer ainda que a qualidade do ensino oferecido nas escolas federais não é para todos. É sabido que os estudantes que conseguem passar nos processos seletivos destas escolas são os melhores dentre os milhares que concorrem às vagas. Além disso, para continuar na escola é preciso dedicação, persistência e muita disciplina, já que o ensino é rigoroso em todos os sentidos.
Mas é preciso também ter consciência de que o sucesso depende da escolha entre participar e comprometer-se.
Enquanto gestores e professores de escolas públicas estaduais e municipais continuarem a aceitar a intervenção dos pais na práxis escolar, em vez de orientar aos pais sobre a melhor maneira de ajudar seus filhos, as escolas públicas municipais e estaduais continuarão com desempenho muito aquém do aceitável internacionalmente.
E se seguirmos o modelo do MEC e fabricarmos interpretações mais amenas aos números (aliás, nossa pior média é em matemática), o brasileiro vai continuar condenado à ignorância educacional. Todos somos ignorantes em alguma coisa, é verdade, mas precisaria ser exatamente nas necessidades da educação, que é essencial?
Nossa ignorância educacional pode levar a ter dúvidas sobre como avaliar, aprovar ou não um aluno ao final de um ano inteiro de aulas. Entretanto, é esta mesma ignorância que faz as empresas permaneçam com centenas de vagas em aberto, por falta de profissionais com capacidade para assumi-las.
E faz mais, faz pensar que educação é algo que custa caro - como se fosse possível estipular o preço da ignorância. Continuamos a misturar alhos com bugalhos e a deixar sem a substância do conhecimento e sem o tempero da sabedoria, as milhares de cabeças que passam por nossas salas de aula ao longo de anos e anos seguidos.
Mas, neste momento é preciso despedir-se de tudo isso. Sair em férias e esquecer as tarefas. Mergulhar no mundo da sabedoria interior, espiritual e emocional. É momento de abraçar, beijar, presentear e agradecer por estarmos vivos e junto aos familiares e amigos.
Afinal, são estas as pessoas que nos fortalecem. E o merecido descanso não pode esperar, sob pena de não termos forças suficientes para fazer do próximo ano, um ano ainda melhor do que este. Quem sabe nosso presente será alguma inspiração e muita disposição para fazer uma educação digna nesse País que chamamos de Pátria Amada, Brasil!