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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Opinião do Jornal 2011

“Eu vim dar uma palestra...”

Editor interino Pedro Ramos Pinto 

Todos sabemos, desde tenra idade, intuitivamente, que o mal e o bem coexistem neste mundo. Esse saber é antes um sentimento, uma sensibilidade, que um conceito obtido pelo aprendizado dos valores humanistas. Sabemos das coisas boas ou más pelos sabores diversos que elas têm. Seria esperado, então, que com o desenvolvimento pessoal e o aprendizado advindo da educação e da vida social, tal sensibilidade fosse ampliada e mais refinada.

Tudo bem que aparecessem dúvidas eventuais sobre se algo seria um bem ou um mal. Um dilema nos mobiliza, nos alerta, desperta o pensar e nos faz decidir. Aí entra em cena o que trazemos desde sempre a partir da nossa existência, a vontade, o livre-arbítrio. Quem decide pode errar, quem não decide, já errou.

Podemos questionar o “livre arbítrio”, mas sabemos que ele é bem verdadeiro. Apesar de toda intuição, toda sensibilidade, todo aprendizado e desenvolvimento advindo da educação familiar, escolar e social, somos livres para escolher, sempre.

Pode-se fazer escolhas de todo tipo: rápidas, precipitadas, demoradas, lentas, pensadas, estudadas, planejadas, certas, erradas, boas, más, e mesmo quando não se escolhe, isso é uma escolha.  Então, por que não se pode escolher quem pode dar palestras nas escolas, e sobre que temas?

Sem sequer pensar em apontar culpa nos funcionários da escola de Realengo, que agiram como educadores, receptivos ao receber um ex-aluno, no sentimento de boa fé comparável a agentes religiosos e pacificadores, numa cultura em que a escola se situaria como lugar e entidade de respeito e até veneração incondicionais, não se pode deixar de perceber que não se pode mais agir desse modo.

Para ser admitido dentro de uma escola,  num lugar em que se encontra a verdadeira riqueza de um povo, que são seus filhos, seu futuro, bem humano único em sua diversidade, existências em formação, há que se ter critérios, e todos os cuidados serão poucos. É uma escolha que teremos que fazer pois que não podemos escolher ter de volta os estudantes assassinados.

Vejo nas notícias que se declara o assassino como desequilibrado, louco, insano, esquizofrênico, mas ele me parece mau, principalmente mau. Louco é quem faz mal a si mesmo, contraria o instinto vital de autopreservação e, sem qualquer identificável intenção ou motivação extra, flagela-se ou abandona-se à destruição de seu ser, e não foi esse o caso.

Houve maturação da raiva, houve pesquisa por um modo de despejá-la no mundo, houve planejamento, preparação, houve reconhecimento do terreno, houve investimento em armas, munição, equipamentos, houve a postagem de mensagens, houve preocupação com bens, houve a sistemática e fria execução de todo o crime e do modo de escapar de qualquer punição humana. Isso é maldade antes de ser loucura. E ele não estava só.

A história de vida desse “louco” é bem difícil. A mãe suicida concebeu-o com outro interno de clinica psiquiatrica. Adotado, teve irmãos, frequentou escola pública - não é agravante - e concluiu, gozava de saúde física, não consta que passou fome de comida, mas era faminto de afeto. Não tinha passagens ou queixas na polícia. Morava em local próprio, tinha acesso à internet, mas lhe faltavam bons amigos, habilidade nos relacionamentos com as meninas, que ele fez questão de matar na escola, e principalmente, lhe faltou fazer as boas escolhas.

No dizer de um mestre capoeira, “no mundo o mal vai te achar, o bem você tem que procurar”. Ele procurou e optou pelo mal.

Uma vez um amigo me disse que há no mundo humano um embate entre o bem e o mal, e que há uma tendência ao equilíbrio entre esses dois, ora temos mais de uma que de outra, mas a somatória geral de um e outro tende a se igualar.

Sempre torci para que ele estivesse errado nisso, que o bem deveria ser mais e maior, hoje começo a admitir sua razão. Se bem e mal coexistem como luz e sombra, dialéticos, então qual o bem que se seguirá a essa maldosa tragédia? Palestras?

 

 
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