Lições aprendidas com e pelos caminhoneiros (Junho/2018)
A primeira e mais importante lição é que, em tempos de internet e redes sociais, a comunicação está ao alcance de todos. Portanto, não é preciso estar filiado ou organizado em uma das 17 mil entidades sindicais do Brasil, para paralisar o país, refém da categoria dos transportadores rodoviários, por mais de uma semana.
Mas exatamente porque a comunicação está ao alcance de todos, é preciso ter a liderança bem definida para avaliar cuidadosamente qual o melhor momento para paralisar, como e com quem negociar as pautas de reivindicações e, principalmente, avaliar qual é o momento ideal de encerrar o movimento.
Para não ficar refém dos “caroneiros pegados pelo caminho” é indispensável saber exatamente qual a pauta de reivindicações que motivou e terá força para manter a categoria parada e quem é ou são os líderes que levarão as reinvidicações à mesa de negociações.
Outra lição, esta aprendida pelo brasileiro comum, que encontrou meios de transporte alternativo: há vida sem carro. E a mais importante e esta aprendida por todos: não há vida sem os produtores rurais.
Aprendemos também que a maioria dos brasileiros preferem a democracia e a liberdade de escolha e expressão que ela proporciona. E que, os brasileiros são trabalhadores e, apoiaram o movimento dos caminhoneiros e não o dos ‘caroneiros’: os intervencionistas. Foram eles que pegaram carona no movimento e defendiam a volta da administração do país pelos militares.
Mas para isso, como eles mesmos dicursaram, era preciso instalar o caos, para que então, as forças armadas fechassem o congresso e assumissem a administração federal.
E como todos somos muito ignorantes, embora nem todos ignorantes das mesmas coisas, esqueceram de combinar com os comandantes das forças armadas.
Apesar da força da categoria e com empoderamentos adicional com o paoio popular, sem conhecimento, sem maturidade política e sem lideranças autenticas e pautas bem definidas, a paralisação dos caminhoneiros correr o risco de ficar refém dos ‘caroneiros, oportunistas de plantão’, que foram “ingressando” a cada dia em maior quantidade, geralmente disfarçados de apoiadores.
Um velho ditado popular diz que saco vazio não pára em pé, assim como cabeça vazia não comanda o próprio corpo e será imediatamente preenchida por ideias de outras cabeças melhor articuladas.
A frase de Abraham Lincoln, “você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas por todo o tempo”, ilustra adequadamente a campanha “#somostodoscaminhoneiros, espalhada rapidamente pelas redes sociais.
E como a violência física é a arma dos sem argumentos, tão logo foram levantadas as barreiras dos portões das distribuidoras de combustível, caminhões tanques foram chegando aos postos e o povo mostrou que não somos todos caminhoneiros.
Somos todos seres humanos ávidos pela própria sobrevivência.
O instinto natural de sobrevivência, presente em todo e qualquer ser vivo, se sobrepõe à ideologia ou à solidariedade. Cada brasileiro tinha os próprios argumentos, todos muito fortes e justos, para abastecer o tanque do próprio carro.
Então, muitos encontraram nas fake news e nas redes sociais o lugar “adequado” para despejar o ódio sobre quem não apoiou a intervenção militar, como se essa fosse a bandeira de todos os caminhoneiros.
No momento econômico e político delicado por que passa o Brasil, a categoria pulverizada, sem lideranças definidas acabou ganhando “mais apoio do que necessitava” para “continuar paralisada” por mais tempo.
Assim como alguns estados, Santa Catarina, um dos últimos a levantar todas as barreiras das estradas, foi o que teve maior número de agressões a caminhoneiros e a populares, mesmo os que simplesmente passavam pelas rodovias onde estavam instaladas as barreiras.
A ação destes ‘caroneiros’ nos proporcionou mais um lição especial, a de que Santa Catarina é um dos estados, ou o estado com maior número de intervencionistas violentos do país.
Mas percebemos também que nossos governantes, especialmente o governo federal, nas mãos de Temer, apesar de impopular e duramente critico, soube analisar e estabelecer a estratégia adequada para pôr fim à paralisação no momento e de forma correta. A decisão e o não uso da força para intervir e retomar as rodovias foi digna de estadista.
É nos momentos de crise que poderemos avaliar a preparação e maturidade política de nossos governantes.
É também nesses momentos que a população percebe como os governantes do passado recente falharam.
Pois, devido à desativação de 60% de nossa malha ferroviária da década de 90 até 2016, o país ficou refém de uma única categoria, a dos transportes rodoviários.
Não é possível que um país com as dimensões continentais como o Brasil, com a quantidade de rios e mares navegáveis e com uma malha ferroviária imensa desativada, tenha praticamente 100% de sua produção, população e riquesas transportadas sobre rodas.
Em 2016, um estudo fez uma rápida comparação com outros países. Considerando o tamanho do país e o da sua rede ferroviária, o Brasil, com seus 8.516.000 km², tinha somente, 28.137 km de trilhos (inclusos os trilhos de metrôs, VLTs e recentes monotrilhos), mesma quantidade praticamente que o Japão, cujo território é 23 vezes menor. Neste mesmo padrão, está os EUA, que possuem 14 vezes mais ferrovias e a Argentina nosso vizinho latino, possui quase 4,5 vezes mais ferrovias que o Brasil.
No rastro dos prejuízos sofridos pela sociedade e pelos caminhoneiros, apesar do governo ter sedido em todos os pontos da pauta, também tiveram prejuízos.
Embora empoderados pela sociedade e até mesmo pelos “caroneiros”, os caminhoneiros continuarão a rodar pelas estradas esburracadas e inseguras e a viver boa parte do tempo longe da família.
Os prejuízos são muitos, as sugestões também, mas o grande alerta foi dado. E certamente o tema voltará à tona nas próximas eleições.
É preciso repensar, os privilégios dos membros do Congresso, a imagem dos politicos (todos) e a política de mobilidade do país.
Ou seja, mais uma vez, o Brasil precisa ser “passado a limpo”, não somente pela operação Lava Jato, mas pela operação voto nas urnas.
Os partidos políticos terão que rever seus valores, seus orçamentos e seus candidatos. Os políticos terão que rever sua imagem, sua carreira e remuneração.
A justiça terá de “rever seu trabalho e seus privilégíos”. Os funcionários públicos terão de rever sua aposentadoria. Os pais terão de rever a educação dos seus filhos.
A solução para o país passa pela implantação de uma remuneração diferenciada aos governantes e legisladores, que nunca supere o salário que ele recebia quanhdo na atividade profissional de origem. O cálculo seria sobre os três anos anteriores a eleição para o cargo.
É preciso acabar com a dependência do país das rodovias. Mas também é preciso acabar com a carreira de político.
O salário de cada vereador, deputado, senador, prefeito, governador e presidente será equivalente a média salarial que o profissional-candidato, conforme declaração de Imposto de Renda, anteriores à eleição.
A medida possibilitará de forma imediata, duas grandes reformas no país. A primeira é reforma política, pois somente serão candidatos, os brasileiros profissionais preparados e que queiram efetivamente trabalhar pela Nação brasileira, acabando com a carreira de político.
A segunda, decorrente da primeira, é a reforma cultural, pois sem os privilégios dos altíssimos e injustos salários e benesses dos políticos, o dinheiro público economizado, poderá financiar as obras de infraestrutura.
Para isso, precisamos apenas de uma intervenção de ‘vergonha na cara’ dos políticos e de muitos brasileiros comuns. Os funcionários públicos das ‘casas legislativas’, por exemplos, poderão auxiliar seus ‘chefes’ a fazerem imediatamente as reformas política, tributária e principalmente, a previdenciária.
Afinal, quem recebe os maiores salários ao longo da vida laboral, tem a obrigação de administrar suas finanças e guardar o suficiente para ter uma aposentadoria tranquila, mesmo recebendo o teto pago pelo INSS, igualmente aos demais brasileiros trabalhadores da iniciativa privada.