Empoderar o professor é garantir que a escola cumprirá sua finalidade primária: ensinar (Julho/2018)
Em tempos em que há falta de professores e diminui drasticamente o número de jovens que optam pela profissão, estudos reforçam que o papel do gestor da escola na resolução dos conflitos entre professores x alunos, especialmente os relacionados à indisciplina e insubordinação à autoridade do professor em sala de aula e ingerência dos pais sobre a avaliação do professor, é determinante.
Entender e agir tendo no professor a autoridade máxima do processo de ensino e aprendizagem é fundamental para a ensinagem e, por conseqüência, a aprendizagem. Já que não há um sem o outro.
Somente quando os professores forem efetivamente tratados como a peça principal e elo irradiador de conhecimento da equipe pedagógica da escola, haverá condições de ensino e, portanto, aprendizagem.
O Brasil vive um dos seus piores momentos da educação. Na última edição (2016) do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), o país teve uma queda de pontuação nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática. Dos 70 países avaliados, o Brasil ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática.
Internamente temos tudo por fazer. O BNCC do Ensino Fundamental foi publicado recentemente e ainda não está sendo cumprido efetivamente. A BNCC do Ensino Médio ainda está em discussão. O movimento contra a reforma do Ensino Médio, instituída por Medida Provisória, cresce a cada dia. O cumprimento das 20 metas do Plano Nacional de Educação (PNE), em vigência até o dia 26 de junho de 2024, é apenas uma miragem.
E nas escolas, grande parte dos diretores continua ouvindo mais os alunos e pais do que os professores, os verdadeiros especialistas no ensino, quando o assunto é indisciplina e notas dos alunos.
O discurso é politicamente correto. Os estudos e registros também, mas, é sempre bom lembrar que o papel aceita tudo, que discurso não é ensino e nem retrato de ação e, como todo político, as diretoras e diretores de escolas públicas indicadas por políticos, estão mais comprometidas com o cargo e reconhecimento pessoal e profissional, do que com o ensino.
Entretanto, a escola foi criada e é mantida pela sociedade com a finalidade de ENSINAR aos seus cidadãos que estão aqui para servir a sociedade e não o contrário. Os gestores de escolas deverão administrar a escola considerando o que disse John F. Kennedy, “não pergunte o que seu país pode fazer por você.Pergunte o que você pode fazer por seu país”.
Enquanto os diretores de escolas públicas agirem como se os pais fossem os especialistas em educação e não os professores e aos alunos como se fossem as autoridades da sala de aula, nenhuma luz se acenderá no final do túnel escuro que é o caminho da educação do país.
Desde o ano passado, o Jornal da Educação lançou a campanha contra esta inversão de papéis que vem se aprofundando nas escolas, especialmente as públicas de ensino básico. Assim como aconteceu nas famílias, cujos pais perderam a bússola da educação dos filhos; as escolas estão perdidas em sua missão. Que é ensinar o saber científico de geração em geração, para que não precisemos reinventar a roda.
Jamais conseguiremos transformar nossas crianças e adolescentes em cidadãos conscientes de seus deveres e direitos se não ensinarmos, na prática, que há regras para convivência na sociedade e que elas devem ser cumpridas, e que há punição e perdas graves para quem não as cumprir rigorosamente.
A regra número um da escola é: a sala de aula é o local sagrado do saber e nada deve interromper a explicação do professor e a audição do aluno para esta explicação. Lugar de aluno e professor é na sala de aula. Professor(a) é a autoridade, o aluno seu súdito fiel.
Todos os demais profissionais, espaços e tempos da escola devem garantir esse movimento sagrado do professor ensinar e do aluno estudar para aprender. Estar na sala de aula de corpo e alma e não para bagunçar é pre requisito para a aprendizagem.
Em sala de aula o aluno pode exigir seu direito de aprender, de ter quantas explicações forem necessárias, mas também tem que fazer sua parte: ficar em silêncio, prestar atenção na explicação, fazer os exercícios e receber nota adequada pelo desempenho aferido pelo professor nas avaliações. É corrupção pedagógica inventar nota e fraudar as estatísticas.
O professor explica em alto e bom tom, os alunos ouvem em silêncio. O diretor da escola administra, o supervisor ajuda o professor a ensinar, o orientador auxilia o aluno a descobrir qual o comportamento ideal para que ele aprenda.
A equipe pedagógica deve mostrar aos pais o melhor caminho a seguir para que seu filho aprenda os conteúdos. Afinal, são os professores que estudaram e se especializaram em ensino e aprendizagem e não os pais.
Não cabe ao professor educar, este é o papel dos pais. Não cabe aos pais atribuírem nota a seus filhos, esta é uma prerrogativa da professora. Não cabe ao diretor atender aos pais que vem na escola para resolver problemas de aprendizagem e comportamentais em sala de aula. O pai que vai à escola deve ser atendido pelo (a) professor(a) de seu filho.
Não cabe ao pai dizer em qual hora falará com a professora, o professor deve atender em sua hora atividade ou marcar horário para atender o pai. O professor precisa ser empoderado como principal especialista no ensino da escola que é.
Não cabe ao diretor dizer ao professor como ensinar. Ele deve ter uma equipe para empoderar o professor na ensinagem e auxiliar os alunos na aprendizagem.
Professor está em extinção e bons professores são a cada vez mais raros. Eles preferem ir para outras profissões onde serão respeitados e onde poderão fazer mais pela sociedade do que “aturar desaforro de criança e adolescentes e desrespeito por parte dos chefes hierárquicos”.
Não cabe ao diretor da escola pagar mais ao professor de escola pública, este é um papel do governo.
Ou seja, a única solução para a educação brasileira é cada um fazer a sua parte. Uma aula não deve ser interrompida. Jamais um professor deverá ser criticado na frente de seu aluno. E jamais um aluno deverá ser comparado a outro. Cada turma é única. A turma jamais poderá ser punida pelo erro de alguns de seus membros.
Regras são para todos, mas cabe a cada indivíduo cumpri-la. E a punição pelo descumprimento devem ser rigorosa na escola pois é ali que se aprende a viver e conviver em sociedade respeitando as leis e sem “dar jeitinho”.
Só mudaremos este país, no dia em que cada um fizer a sua parte na escola. O professor ensinar, o aluno estudar, o diretor administrar. A equipe pedagógica, liderada pelos professores ajudar-orientar os pais a educarem seus filhos para valorizarem a escola como espaço único do saber e do respeito a si, ao outro e ao ambiente.
Somente assim nossos alunos e alunos se tornarão cidadãos pensantes e com conhecimento suficiente para escolherem livremente o que querem fazer das próprias vidas.
Ao melhorar a própria vida, estarão melhorando a de suas famílias, de sua comunidade e portanto, o Brasil.
Cidadãos conscientes fazem diariamente a pergunta: o que posso fazer hoje pelo Brasil. Ao invés de insistir em tutelar nossas crianças e adolescentes tratando-os como inválidos, as escolas brasileiras precisam mostrar que cada um é responsável pelas próprias escolhas. E que o conjunto das escolhas e ações de cada brasileiro é que vai melhorar o país que há muito deixou de ir pra frente.
Basta de tutelar os pais doando uniformes e dando comida para seus filhos. Prover minimamente seu filho com o que comer e vestir dará aos familiares a sensação de empoderamento sobre a sobrevivência física da própria prole, liberando à escola para ensinar o filho ou filha a lutar por mais qualidade de vida e a fazer seu papel na construção de um país melhor.