“Não temos certeza se isso é um milagre, ciência ou qualquer outra coisa”. (Setembro/2018)
Doze meninos com idade entre 11 e 16 anos e seu treinador com 25 anos tomaram grande parte dos holofotes que, naquele período, estariam totalmente voltados à Copa do Mundo realizada na Rússia. A equipe de futebol “Wild Boars”, ou Javalis Selvagens na tradução para o português, vivenciaram ‘a alegoria da caverna”, vendo o mundo pelas sombras da mente, por longos 17 dias.
A equipe entrou na caverna de Tham Luang, no norte do país, no dia 23 de junho, buscando proteção da chuva torrencial durante um passeio de bicicleta. Eles sobreviveram por nove dias somente com poucas provisões e muita meditação, sob a orientação do ex-monge budista e treinador do time, Ekapol Chanthawong.
“Ninguém pensou que poderíamos fazer isso. Foi uma Missão Possível para o Time Tailândia. Os heróis desta vez são pessoas do mundo todo — disse o governador. “A missão foi bem-sucedida porque tínhamos poder, o poder do amor. Todos enviaram (amor) aos 13.”
A complexa operação de resgate contou com a participação de 90 mergulhadores - 50 estrangeiros e 40 tailandeses - e a história do time Wild Boars mobilizou o mundo inteiro. “Posso oficialmente dizer que o restante dos meninos foram resgatados”, afirmou Narongsak Osotthanakorn, ex-governador de Chiang Rai e comandante da missão de salvamento, em entrevista coletiva após a missão. Ele acrescentou ainda que “a missão foi possível por causa do poder do amor”.
Em seu ponto de vista, as centenas de milhares de pessoas, de todas as religiões mundo afora, permaneceram em oração pela vida dos 13 atletas. Enquanto oravam, todos enviavam amor, que foi recebido não somente pelos aprisionados na caverna, mas também pela equipe que trabalhava no resgate.
O comentário retrata claramente o pensamento budista, a principal religião da Tailândia. Para os budistas, a oração não só aproxima o homem de uma divindade superior, mas também ajuda a si próprio, a desenvolver qualidades como a calma, a alegria e o amor.
A principal ‘oração’ dos budistas tailandeses é a meditação mindfulness. A meditação budista existe há 2600 anos, como ferramenta para alcançar clareza e paz de espírito e, em última instância, a libertação do sofrimento, de acordo com a filosofia.
Durante os dias em que permaneceram isolados, o treinador Chanthawong ensinou os meninos a meditarem. A meditação busca manter a atenção aos estímulos internos e externos é amplamente conhecida por auxiliar na diminuição dos sintomas de ansiedade, estresse e até da dor. Os budistas meditam para conectar com o divino e encontrar solução para os problemas do mundo externo. O resultado foi surpreendente.
Seguindo a prática comum na Tailândia, logo após recuperarem a força física e serem tratados das feridas do corpo, os meninos foram para um mosteiro onde permaneceram por nove dias em uma espécie de retiro espiritual. Trata-se de uma espécie de ritual de passagens entre a vida de um homem comum para a condição de iluminado, forte, superior.
Enquanto boa parte do mundo ocidental procurava culpados e razões para os meninos terem ficado presos na caverna, centenas de pesquisadores, cientistas, mergulhadores, engenheiros, geógrafos, militares, bombeiros, médicos, marinheiros etc mergulhavam no mundo real em busca de alternativas para salvar aquelas 13 vidas. Conseguiram.
Bom seria que os profissionais da educação que ainda sentem-se encorajados a trabalhar nas escolas de ensino básico em todo o país, fizessem como aqueles milhares de profissionais que salvaram os meninos, emprestassem cada o seu melhor para encontrar a alternativa para “salvar” a educação brasileira.
As notas do Saeb 2017, dos 5º, 9º e 3º ano do ensino médio, divulgadas na ultima semana de agosto, mostram que o conhecimento dos alunos brasileiros está depositado no fundo da caverna inundada de indisposição e má vontade.
Assim como a equipe de resgate, ao invés de ficarmos procurando os culpados pelo caos em que se encontra o sistema de ensino (há até quem diga que não o temos); precisamos mergulhar no mundo da auto-reflexão e buscar dentro de cada profissional da educação o conhecimento, a disposição e as ferramentas para ir muito além das convicções religiosas e políticas e intervir para “salvar nosso ensino”,
Não é razoável, que os brasileiros continuem votando no discurso de políticos que já prometeram tudo e, mesmo estando no poder (em qualquer um deles) nada fez para evitar a situação atual.
E, mais do que escolher o executivo, é preciso prestar atenção nos candidatos à vagas no legislativo, pois é neste poder que são apresentadas e votadas as leis que nortearão as ações de ensino nas próximas décadas.
É mais importante votar, ter bons deputados e senadores, do que discursos de presidenciáveis carregados de soluções já testadas e fadadas ao fracasso em tempos anteriormente.
O Brasil é um país único e a caverna do ensino brasileiro está completamente inundada antes mesmo do período das chuvas chegar. O primeiro passo é tratar nossas crianças e adolescentes como seres capazes de aprender, inclusive a terem disciplina em sala de aula e seus pais, a aprenderem que são os professores os profissionais do ensino e não eles próprios.
Ninguém faz curso para ser pai. Mas todos os professores e demais profissionais da educação fizeram um curso superior e, portanto, são os especialistas do ensino. Ou seja, um professor jamais poderá aceitar que um pai de aluno lhe diga como e qual nota é adequada ao conhecimento apresentado pelo filho.
Pois, assim como o conhecimento científico, a tecnologia decorrente deste conhecimento, o trabalho em equipe e a solidariedade mundial salvou a vida dos integrantes do time de futebol, o amor e as orações conseguirão, no máximo, iluminar as mentes e corações para encontrar a melhor saída. Somente e ações concretas e imediatas poderão operar o milagre da recuperação da qualidade do ensino brasileiro (e não somente do ensino público).
Assim como com os meninos, é desnecessário encontrar culpados, precisamos começar a buscar em cada um a força para superar a escuridão da ignorância. É preciso acreditar na própria capacidade, manter a lucidez e a calma durante toda a jornada de saída. E manter-se em auto reflexão por todo o tempo, pois o resgate será vitorioso e completo, somente e quando a luz do saber chegar a todos os brasileiros.