Voto de brasileiros é procuração com deveres e direitos plenos (Outubro/2018)
Em poucas semanas, as eleições para presidente, governadores, senadores e deputados serão coisa do passado. Exatamente como aconteceu nas demais eleições na história do país, o ‘amor adolescente’ do brasileiro pela democracia infante chega a seu auge junto com a contagem dos votos das urnas eletrônicas, e despenca no abismo do anúncio do resultado das eleições.
O brasileiro vota com paixão, não com razão. E, exatamente como acontece em nossa vida pessoal, as decisões tomadas no calor da emoção, seja positiva ou negativa, tendem ao equívoco eterno. Por isso o famoso, conte até dez antes de ...
Uma análise, mesmo que superficial do comportamento do eleitor brasileiro do pós Constituição Cidadã (1988), leva à conclusão de que ao confirmar o voto na urna eletrônica o brasileiro sente-se desobrigado de assumir as conseqüências de suas escolhas e abandona o político eleito a seus próprios interesses.
É como se ao apertar o botão CONFIRMA, o eleitor estivesse transferindo o cidadão que há em si para o candidato. E com esta transferência seguisse toda a responsabilidade pelos rumos da comunidade, do país, do estado ou do município. Nenhum governante ou legislador cai do céu ou do inferno. TODOS saem de uma urna eletrônica parido pelo voto da população ‘adulta” do país.
Os profissionais da educação que convivem com a indiferença, para não dizer abandono, das famílias para com seus filhos, dirão que é exatamente como têm feito grande parte dos pais com os próprios filhos matriculados nas escolas públicas. Tudo o que fazem é comparecerem na escola uma vez ao ano, por força da obrigação legal de assinar a ficha de matrícula de seus filhos.
Raras são as exceções entre os eleitores, assim como também são raros os pais que participam efetivamente da vida escolar de seus filhos ou dependentes. E pior é a constatação de que os próprios profissionais contribuíram para construir esta cultura de que o Estado é o provedor e algum político poderia ser o mágico salvador da Pátria Brasil.
Somos um povo estranho que continua a procurar, entre os políticos, o salvador da pátria. Foi assim com a implantação da reeleição, aprovada somente porque Fernando Henrique Cardoso precisava de mais tempo para colocar a economia brasileira na ordem mundial. E foi assim (e ainda esta sendo para algum brasileiros) com as eleições de Lula e seus apadrinhados por mais de uma década.
Apaixonado pelas benesses que acredita receberá de seus candidatos, os eleitores da adolescente democracia brasileira, brigam, espalham fake news, discutem com os amigos e familiares tudo em nome de sua fé naquela lenda urbana em que transformou a performance do seu político de estimação. Somos um povo especialista em criar esse tipo de crenças populares.
Entretanto, como todo adolescente, concretizado o mito por meio do voto, o cidadão brasileiro esquece de acompanhar e avaliar as ações e o governo já nos meses seguintes a votação. É como se por meio do voto, assinasse um cheque em branco (coisa de tempos pré internet) para o candidato. Então, por quatro anos, o voto no ‘representante’ o dispensa de agir em favor de sua comunidade.
Também são raros os cidadãos brasileiros que raciocinam sobre o fato de vivermos em um país capitalista. Vale lembrar que neste regime econômico, tudo é medido pelo valor financeiro. Portanto, o que é gratuito, não tem valor. Ou seja, a educação pública e gratuita foi sendo desprovida de valor a medida que foram sendo incluídos os aparatos gratuitos: livros didáticos, uniforme (perdeu a identidade da escola), material (e com ele o conteúdo científico), merenda, etc...
Com este movimento, embora indispensável para manter muitas de nossas crianças nas escolas, foi sendo implantada a desobrigação dos pais em prover seus filhos dos bens de primeira necessidade: comida, vestuário, moradia e cuidados odontológicos e até afetivos. A professora foi transformada em tia e a escola em 2º lar.
Desse modo, os pais foram desobrigados de participar financeira e até mesmo afetivamente da vida escolar dos filhos.
O resultado é o que vemos. A grande maioria das famílias, especialmente as que recebem tudo gratuitamente, não valorizam a escola como caminho para mudar a vida de seus membros. A escola perdeu seu valor, já que é gratuita e tudo o que é gratuito é desprovido de valor na sociedade capitalista.
Do mesmo modo, a força de trabalho, um dos bens mais preciosos na sociedade capitalista e o conhecimento a ela agregado, foi ganhando valor. E, na contra mão, a força de trabalho bruta, foi perdendo seu valor e postos progressivamente.
Nestas eleições de 2018, confrontamos dois modos opostos de administrar o país. De um lado, estão os que acreditam que esse movimento de transformar o Estado em provedor absoluto deve continuar a qualquer preço. E de outro, os que querem barrar o movimento que vem crescendo nos países da América Latina. Este segundo grupo, acredita no Estado mínimo e que o cidadão deva fazer a sua parte na construção de seu próprio patrimônio material e cultural.
A disputa está centralizada no cargo de presidente, como se o Brasil fosse um reinado em que o detentor da caneta do Planalto governasse sozinho. Esquecem-se que somos uma democracia em que o poder emana de seu voto e que, este mesmo voto é o recado mais claro e objetivo de que é preciso dar um basta nas ações do governo que lá está, seja no poder legislativo, seja no executivo ou mesmo no judiciário, já que este poder deve seguir as leis criadas pelos legisladores.