Escola com doutrinamento de que partido? (Dezembro/2018)
Os professores estão no centro das discussões no Brasil. Desde o momento em que o candidato do PT mudou sua estratégia de marketing, colocando-se como um candidato professor que seria a alternativa a um candidato militar fascista, a radicalização da eleição para presidente foi para o pátio da escola.
Talvez o desentendimento entre os brasileiros em relação ao pleito, tenha ido para este palco exatamente por estarmos no mês em que é comemorado o Dia do Professor. Especialmente porque os professores tem uma única certeza: a escola não está do lado do ‘seu partido’.
Pouco se discutiu sobre o futuro do ensino no Brasil e muito se discutiu sobre o profissional da educação. Na visão de ambos os lados, é como se os professores, especialmente os da educação básica, fossem a mão de obra ‘especializada em doutrinação’, sem pensamento próprio e a serviço de duas correntes filosóficas nada democráticas.
É como se fossem meros formadores de opinião, mas sem ter a própria visão de mundo. Na visão dos “cabos eleitorais”, os professores não são seres pensantes com capacidade de implementar na sua ação diária de ensinar, atitudes e pensamentos individuais.
Para ambos, os professores são os ‘pau mandado’ de governantes sacrossantos.
O desrespeito aos professores veio de ambos os lados. Aliás, este é o resultado de um movimento organizado de anos e anos de uma formação ineficiente e excludente de pensamentos pedagógicos de determinadas linhas filosóficas e pensamento não compartilhados pelos professores universitários, especialmente os de universidades públicas, a maioria deles alinhados ao pensamento socialista e anticapitalista.
Ao longo de quatro ou cinco anos de formação, os atuais professores foram sendo ‘doutrinados’ a irem para as salas de aula e reproduzirem ideologias que, muitas vezes, sequer estudaram a fundo, durante o curso universitário.
Os brasileiros assistiram uma pseudo esquerda lutando para não perder o poder, que plantado sob os alicerces de uma máquina governamental aparelhada, terá de ser desenraizada pelo novo governo. Ao mesmo tempo, a pseudo direita, cansada de assistir ‘de camarote’ o crescimento da intervenção do Estado em seus negócios e vida, lançou pela primeira vez na história brasileira, um movimento popular pelas redes sociais.
De um lado, os esquerdistas preocupados com o fim do campo de replicação do pensamento marxista da relação trabalho x capital, cujas ideias e ideais estão entranhados nas linhas e entrelinhas dos livros didático, do conteúdo curricular e da própria visão de mundo dos professores, a grande maioria formada à luz da Pedagogia do Oprimido, desconsiderando a possibilidade de metodologias de ensino ou mesmo de libertação pelo ensino.
A quase totalidade dos livros didáticos e referenciais pedagógicos produzidos e utilizados nas últimas cinco décadas no Brasil trazem o pensamento socialista como essência e a meritocracia como um quase crime, apesar de vivermos em uma sociedade capitalista.
De outro, o pensamento libertário dos capitalistas (todos somos), especialmente os empreendedores, cansados de serem hostilizados pela simples possibilidade de auferirem lucro com a força do próprio trabalho e a que emprega, para multiplicar seu capital.
Mas esta discussão ficou em segundo plano. O que estava em jogo, na frente dos holofotes, não era a escola sem partido, o que foi “jogado no ventilador” foi a falta de respeito aos professores em todas as nuances que o desrespeito pode vir.
Acusados de doutrinadores por uns e responsabilizados pela baixa qualidade de ensino por outros, os profissionais da educação básica brasileira foram transformados na salsicha (azeda) do cachorro quente da educação.
Todos ficaram empurrando com o dedo em riste para que não saísse do meio do ‘pão’, mas guardada até o final da refeição, pois é a salsicha que dá o sabor ao cachorro quente.
Mas, no meio do caminho havia o Dia do Professor e foi publicada uma pesquisa que aponta que a qualificação e a escuta são, para os docentes, as medidas mais eficazes para que haja maior valorização da profissão pela sociedade.
Na mesma pesquisa, os próprios professores apontam a necessidade da formação continuada (69%) já que os cursos de licenciatura não formam adequadamente para os primeiros anos de profissão. Aliás, poucos cursos de todas as faculdades brasileiras formam para os primeiros anos da profissão.
Os docentes também não são escutados para a formulação de políticas educacionais e este talvez seja o ponto que mais influencie na formulação do marketing político eleitoral.
Se tratados como meros repassadores de conteúdos impostos por este ou aquele governante até mesmo pelos marketeiros, imagine como será o tratamento tido como adequado pelos políticos eleitos para governar.
O processo eleitoral deste ano deixou a mostra também que mais do que restaurar a autoridade do professor em sala de aula perante seus alunos e familiares, é preciso restaurar o respeito ao professor na sociedade.
E, principalmente, entre os cinco poderes da república brasileira: o eleitor, o legislativo, o judiciário, o executivo e a imprensa (formal e informal).