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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Crônica de um depressivo que não se reconhece... (Julho/2019)

Acordar cansado com o despertador e sofrer para deixar a cama sozinha. Olhar no espelho e ver um rosto cheio de marcas e manchas, o cabelo sem alternativas para ficar do jeito que gosta.
Abrir o guarda roupas de duas portas com dezenas de roupas empilhadas nos cabides e prateleiras e não encontrar o traje ideal para mais um dia de trabalho...
Fazer o café da marca preferida e mesmo assim o sabor não satisfazer ao paladar. Brigar com o relógio que insiste em mostrar que a hora de ir para o trabalho já chegou. É preciso sair de casa.
Entrar no carro e respirar fundo três vezes antes de virar a chave e dar partida no motor. Tentar abrir o portão com o controle remoto e sentir que aquela é uma porta que se abre para o martírio...
O motorista do carro ao lado parece estar perdido no espaço, o da frente briga desesperadamente por uma vaga, mas falando ao celular, nem escuta a sirene da ambulância pedindo passagem.
O pedestre que estava esperando a vez para atravessar a rua, resolveu passar bem na hora que você está chegando próximo à faixa. Parece que o universo conspira contra...
Olhar para o aluno e perceber que não há nem vestígio do antigo desejo de abrir o sorriso para acompanhar o bom dia forçado. Ensinar a lição do dia, sabida e repetida à exaustão ano após ano para turmas diferentes e lembrar, somente no final do dia, que esqueceu detalhe essencial para a compreensão do tema pelos alunos.

Brigar com o relógio que insiste em mostrar que a hora de ir para casa ainda está longe. É preciso continuar trabalhando. Tentar ler um texto para incluir na aula de amanhã, mas a concentração não vem.

Sentar para corrigir uma avaliação e o trabalho não render. Difícil descobrir as razões para as turmas deste ano apresentarem rendimento tão baixo, a aprendizagem está muito aquém das turmas de anos anteriores. Estes são apenas alguns dos pequenos sinais de que algo não vai bem.

A paciência com os filhos, a mãe, o pai, a família, o marido, a mulher, a amiga de infância e da adolescência, a colega de trabalho e, principalmente, com a equipe gestora da escola, já se esgotou. Quem deveria ajudar, só atrapalha...

Ninguém faz nada direito. Falta profissionalismo!

Na festa, quando o garçon chegou até mim, virou a garrafa, mas meu copo ficou pela metade. O ‘daquela chata’ quase transbordou. A carne estava fria e meu irmão brigou novamente com a mulher dele.

No grupo de whats só vem porcaria para lotar a memória do meu celular. E mais da metade das mensagens são de pessoas querendo convencer a gente de que é preciso ter ainda mais fé para sobreviver a mais uma crise econômica e política do Brasil. Até parece que Deus é quem está governando e não um político.

Mas um dia me disseram que se tudo e todos a sua volta estão errados, talvez eu é quem esteja. Porque o universo estaria conspirando deste modo contra mim?

O que será que fiz para merecer tamanha tortura? O que está errado em mim? A pergunta que não quer calar continua a atormentar o juízo até na hora do sono que não vem. Ou será que perdi o juízo?

Mas como uma mente sem juízo conseguiria se auto diagnosticar? Um depressivo, jamais se reconhece. Os sinais são pequenos e aparecem em meio às conversas do dia a dia.
Num grupo no qual só se fala mal de pessoas, nunca de ideias, há um (ou todos) depressivos. Este é um grande sinal de que há algo errado com aquelas mentes obsessivamente ávidas por encontrar erros nos outros.

 
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