Opinião do Jornal 2020
Faça o que eu digo, NÃO o que eu faço (Junho 2020)
O vídeo da reunião ministerial que tinha como objetivo apresentar o Pro Brasil, plano unificado de governo, do dia 22 de abril, deixou a mostra a falta de coordenação das ações do governo federal. Não somente no que se refere à crise sanitária provocada pela COVID-19, mas inclusive no campo das ideias, no qual as lutas da ciência x religião e liberdade x opressão são uma constante.
Por outro lado, ficou ainda mais evidente que não somente os brasileiros, mas a população mundial está nas mãos dos cientistas que correm contra o tempo e a expansão do Corona Vírus pesquisando 24 horas por dia, individualmente e em pesquisas compartilhadas com colegas de todo o mundo via internet, na busca por remédios e vacinas seguros para uso humano.
A falta de tratamento e a possibilidade de contágio reduziu ao mínimo a marcha da economia mundial . E o medo paralisou as pessoas, encarcerando-as em suas casas nos últimos meses.
Realizada na mesma data em que há 520 anos chegaram ao Brasil as caravelas portuguesas, teve os objetivos declarados frustrados. E, após ficar disponível desde 22 de maio, deixou a mostra muito das ideias até então disfarçadas pelo discurso do presidente da república e de seus comandados do primeiro escalão.
Assim como os portugueses acreditaram que a atual Porto Seguro, fosse um monte e o chamaram de Monte Pascoal, ao assistir ao vídeo, os brasileiros passaram a dar diferentes “nomes e interpretações” às palavras e ideias dos membros do governo, empresas estatais e dos ministros. Como é normal, cada um viu aquilo que melhor se encaixava em sua visão de mundo.
Realizada no Palácio do Planalto em plena pandemia com o objetivo de “unir os ministérios num plano unificado de retomada, o Pro Brasil” o evento legou a muitos brasileiros, uma visão diferente do que é efetivamente, o governo federal.
Na última semana de maio, o país estava claramente subdividido em grandes grupos: os leitores/seguidores de Bolsonaro; os eleitores por falta de opção e os eleitores do candidato opositor. Se antes da divulgação, a população permanecia em casa por medo do contágio pelo Corona Vírus, após conhecer o conteúdo, muitos foram às ruas defender a democracia, outros a intervenção militar e outros continuam atônitos diante de tantas declarações que deixaram à mostra a ignorância e ódio de alguns ministros .
A reunião começou com uma “chamada de atenção” ao ministro chefe da Secretaria de Governo. Na sequência, passou por críticas à soltura indiscriminada de presos do ‘grupo de risco’, pela defesa do SUS, do armamento da população, de implantação de Resorts Integrados (cassinos) e do homeschooling.
Teve também ataques ao STF, ao Congresso, à imprensa e aos políticos de brasília (como se eles próprios não o fossem).
A reunião ‘terminou dias depois’ com a demissão do então ministro da justiça, Sérgio Moro e do ministro da saúde Nelson Teich, que ficou menos de um mês no governo.
Do mesmo modo como ao se aproximarem, os portugueses perceberam que se tratava de uma faixa de terra mais extensa e atribuíram ao local o nome de Ilha de Vera Cruz, após “blindar os ouvidos” às palavras de baixo calão e violentas, largamente usadas durante a reunião, foi possível perceber o desalinhamento tanto nas ações práticas, como ideologias entre os membros do atual governo. As contradições entre o discurso e as ações do presidente da república estão presentes nos demais membros.
Faça o que eu digo, NÃO faça o que eu faço, este é o melhor para o momento. Os pais precisam trabalhar, mas também devem ajudar os filhos a estudar em casa, evitar o contágio. Com isso, talvez percebam que a educação é mais do que ir para a escola, que professor bem formado e família participativa são indispensáveis no processo de aprendizagem.
Uma nova estrutura de vida se faz necessária. Todos os residentes na mesma ‘casa’, apesar de pensarem diferente, precisam se unir num objetivo comum: protegerem-se e aprenderem uns com os outros a fazer o melhor para o grupo.
Cada grupo da população deu sua própria interpretação ao conteúdo da reunião. Muitos sequer ‘perderam tempo’ assistindo, pois têm consciência de que nada podem fazer para mudar o estado das coisas e nem as pessoas que estão no poder.
Têm consciência e precisam encontrar saídas para colocar comida no próprio prato e, muitas vezes, no prato de outros. Estão focados em solucionar a própria estrutura de vida. O que é muito bom.
Como é normal, cada um ouviu somente aquilo que poderá ser usado como combustível em defesa de suas próprias convicções e dogmas.
A teoria da conspiração interna no governo e fora dele e a intenção de implantar uma ditadura no Brasil também foram trazidas à luz.
Após a liberação dos vídeos, a cada dia, novas “notícias ocultas” estão surgindo. É lícito o presidente querer se cercar de uma equipe alinhada com suas convicções, mas é preciso ter em conta que toda unanimidade é burra.
No Brasil, o SUS atende igualmente a pobres e ricos e por esta razão, diferentemente dos americanos, os brasileiros estão morrendo em hospitais, recebendo mesmo que minimamente e nas condições que cada região oferece, tratamento gratuito.
Este é um dos lados positivo do Sistema Único de Saúde. Outro aspecto positivo, é a predominância da agroindústria, a única indústria que não parou no mundo inteiro.
Estes dois pontos provavelmente serão o diferencial do país durante e na retomada econômica pós pandemia. Entre as medidas de enfrentamento da doença já não tão desconhecida, mas ainda sem tratamento e sem vacina, foi adicionado o uso de máscaras.
Assim como a interpretação da reunião é individual, evitar o contágio também é um ato individual. É na ação individual de cada cidadão que encontraremos a saída para a coletividade.
Afinal, ninguém sabe se é portador do vírus e está transmitindo ou sendo contagiado. O brasileiro precisa manter o distanciamento social e a própria imunidade em alta, evitando o contágio e responsabilizando-se pelas próprias ações para proteger a si e aos que ama.
E quem por alguma razão não o fez até agora, basta fazer como o fundador de Brasília, Juscelino Kubitschek: “Costumo voltar atrás, sim, não tenho compromisso com o erro!”