Opinião do Jornal 2020
Cada um no seu quadrado (Agosto 2020)
Em 2008, era lançada a música e brincadeira cada um no seu quadrado. Num dos videoclipes mais famosos, a cantora Sharon canta a “Dança do Quadrado”. Com produção de Antônio Tabet e Cadu Scheffer é estrelado por Tião, Ricardo Amaral e Claudinho Castro que dançam em quadrados de cores diferentes e não podem pisar na linha sob pena de pagar uma prenda.
A expressão volta ao cotidiano agora de forma mais ampliada e no mundo todo. A tela de aplicativos de reuniões, encontros pessoais e ou profissionais e aulas virtuais colocam cada um dentro de seu quadrado. E o limite de cada um é a própria casa. Ninguém pode pisar na linha, sob pena de pagar a prenda de levar o Corona Vírus sorrateiramente para dentro do próprio quadrado, sua casa.
Neste momento em que o número de contaminados e doentes aumenta rapidamente, é preciso ampliar o sentido do ‘cada um no seu quadrado’. Estar no seu quadrado é fazer tudo o que lhe cabe: ficar em casa, usar máscara corretamente todo o período que permanecer fora de casa ou em contato com outra pessoa, respeitar o distância de 2 metros de todos os interlocutores, mesmo dentro de casa, e praticar diariamente ações para aumentar a própria imunidade e dos seus familiares.
De um lado, fisicamente, o quadrado, é a casa de cada um e passou a ser o melhor lugar do mundo para se estar. E, como na música, pisar na linha limite ou sair além delas, leva a “pagar uma prenda, ou um castigo. Vale lembrar que a prenda a ser paga pode ser a própria vida ou de seus parentes e amigos próximos especialmente os que vivem na mesma casa.
Usar máscaras sempre que estiver em contato com outras pessoas, inclusive familiares e dentro de casa, especialmente se você for a pessoa que esta saindo de casa para fazer as compras ou trabalhar.
A explicação é simples. Pesquisas tem mostrado que a maioria dos contágios acontece entre os membros da família e dentro de casa. A pessoa que sai para trabalhar, ou fazer as compras ou mesmo para ajudar outras pessoas, é quem traz o parasita para dentro de casa. Uma vez dentro do corpo humano, o vírus atua de modo diferente em cada pessoa. Tudo depende da imunidade da pessoa. Está comprovado também que mesmo os assintomático transmitem.
O contato com pessoa contaminada assintomática é uma das principais formas de levar o Corona Vírus para dentro de casa. Afinal, quem vê cara, não vê vírus. E, por mais que bem intencionada, se estiver contaminada, a pessoa estará multiplicando e transmitindo o vírus.
A quantidade de “pseudo especialistas” em prevenção a COVID-19 só aumenta. E neste momento em que a região Sul passa a ser o epicentro da pandemia no Brasil, e o Brasil, o epicentro do mundo, passou a ser o laboratório das vacinas em fase final de desenvolvimento; o aumento acelerado da contaminação provoca, também, o crescimento acelerado de pessoas em depressão e síndrome de pânico.
Enquanto os comerciantes estão entre a cruz da falência e a espada das possíveis multas por descumprimento de determinações governamentais da saúde, milhares de consumidores crentes em pseudo especialistas, tomam remédios, suco de limão e laranja com casca e tudo, deixando de fazer exames e ir ao médico para tratar de outras doenças.
Ao mesmo tempo, os egoístas sem o menor indício de sentimento comunitário e de compaixão pelo próximo, saem às ruas sem máscaras e participam de festas, encontros e até de atos públicos aglomerados em ambientes públicos, em casas comerciais, bares, restaurante e até mesmo em elevadores e no transporte público. Vivem como se nada estivesse acontecendo.
Há anos os professores tentam entender porque há alunos que, apesar de frequentarem as salas de aula regularmente e dedicarem atenção às suas explicações, não aprendem. Agora ficou claro que, não basta alguém querer ensinar, é preciso que o outro queira aprender. Não basta o governo determinar e os meios de comunicação repetirem à exaustão, sem respeito ao direito à vida do outro, sem espírito comunitário, o brasileiro egoísta e individualista, não é capaz de enxergar além do próprio umbigo. Nestes continua o pensamento mágico típico de adolescente: ‘nada acontecerá comigo. Eu sou melhor, eu sou imune’. E isso lhe basta.
E o pior é que, no Brasil a responsabilidade é jogada para o CNPJ (a empresa é que arrecada e repassa ou paga a quase totalidade dos impostos). Nossa legislação pune o CNPJ e exime as pessoas (CPF) de cumprir a sua parte.
Deste modo, acostumados à impunidade, o brasileiro “cairá na real”, de que é o CPF e não o CNPJ quem fica doente. É o cidadão quem precisa se prevenir e cumprir as regras sanitárias. E deveria ser a pessoa, e não a empresa a ser multada por descumprimento das normas. Mas, a reforma tributária nesta linha sequer está nos planos do poder central.
Enquanto isso, começamos a enterrar os ‘nossos mortos (familiares, vizinhos, amigos, conhecidos). E agora é chegada hora de ouvir os profissionais da saúde e manter o distanciamento, usar máscaras, higienizar carros, produtos e embalagem. De nada adianta entrar em pânico, caçar as bruxas ou atribuir a culpa ao outro. E também não é tempo de alegar, “a culpa é minha eu a atribuo a quem eu quiser”.
Em pânico, condição que pode ser considerada natural depois de quatro meses de isolamento, as pessoas tendem a acreditar em qualquer dica de especialista. Por mais estranho que possa parecer, em pânico, começam a fazer a própria parte.
Afinal, nada nem ninguém, tem carimbo ou estampa de estou contaminado, sou contaminante. É preciso lembrar que as pessoas, mesmo os familiares e amigos e colegas de trabalho, estão em contato com outras pessoas.
Além disso, há estudos mostrando que a contaminação se dá, principalmente, pelo ar. Portanto, as gotículas que permanecem suspensas ou caem no chão podem contaminar por cerca de 15 minutos quem passar por ali.
Nem os cientistas tem certeza sobre como o contágio se dá e ainda não se conhece tratamento algum que se mostre eficaz em nenhuma fase da doença. Ou seja, nós seres humanos que amamos a vida e queremos continuar vivos, temos pouca coisa a fazer.
Nada mais, além de prevenir o contágio respeitando às regras de higiene e o distanciamento social e aumentar a própria imunidade com alimentação saudável e atividade física regular. Afinal, cada um só pode fazer a sua parte.
São as pessoas e não as empresas ou o governo quem precisa respirar para viver. São as pessoas que necessitam de atendimento no sistema de saúde público, nas UTIs lotadas. Se precisar respirar e todos os respiradores da cidade estiverem sendo usados, não há lei que obrigue um médico a tirar outro paciente para dar lugar a você.
Não adiantará humilhar os médicos, ou os funcionários públicos, você terá de esperar a sua vez, que pode não chegar em tempo.
Uma das maneiras de ‘medir seu grau de tensão’ e ‘participação social na prevenção’, é observar se você encontra justificativas para seus atos e está sempre dando sugestão para amigos, vizinhos, familiares ou mesmo para aquele cara que passou na esquina sem máscara sem que eles peçam. Se a resposta for sim, é porque você NÃO está fazendo a SUA parte.
Na verdade, está na fase de caça às bruxas ou tentando transferir a culpa de sua própria insanidade, aos outros. Esta é uma maneira de burlar o SEU QUADRADO, PISANDO NO LIMITE e eximir-se de assumir a própria responsabilidade.
A cada dia, a afirmação publicada em abril por uma enfermeira carioca: ‘enquanto não estivermos enterrando os NOSSOS MORTOS, ninguém acreditará na gravidade dessa doença”, é mais verdadeira. Ou seja, o brasileiro, cinco meses após iniciar a pandemia por aqui, continua com o pensamento mágico de adolescente: nada vai acontecer comigo, só com meu amigo.
Na atual fase da pandemia, podemos atualizar alguns ditados populares: 1) Quem vê cara não vê vírus. 2) Diga-me com quem andas que te direi se és um contaminador. 3) Mais vale uma máscara no rosto, do que dois parasitas minúsculos se reproduzindo em suas células.
Mais do que nunca, FIQUE no seu quadrado. FAÇA A SUA PARTE. Esta é a única maneira de fazer o bem sem olhar a quem.
Foto: Alunas da turma I do curso Cura de Atitudes, on line, via zoom, com Helena Montenegro Joinville - SC