Estamos em julho de 20-21, há 16 meses do anúncio da existência de uma pandemia mundial de COVID-19. E em todo este período, no Brasil, o radicalismo político, vivenciado desde as últimas eleições para presidente da república, tem influenciado as decisões e, pior, as ações do governo federal e também de cidadãos. Este movimento contribui para os gestores e pais procrastinarem a volta dos estudantes às escolas para as aulas presenciais.
Enquanto as remessas de vacinas e recursos são enviados em maior quantidade para as cidades e estados alinhados com o governo X ou Y, preferências visivelmente perceptível se comparada a velocidade da vacinação em cidades de 'oposição' com a vacinação nas cidades alinhadas politicamente.
Preferência que leva algumas prefeituras administradas por partidos de 'oposição' a enviarem pedidos e documentos quase que diariamente solicitando mais doses para cobrir o cronograma estabelecido pelo próprio governo, outras já terminaram de vacinar praticamente toda a população adulta.
É óbvio que, para vacinar a população, em primeiro lugar é preciso, primariamente, a prefeitura, receber as doses em quantidade suficiente. Vale lembrar que a distribuição é centralizada pelo governo federal, que as repassa aos estados e estes aos municípios. Cabe à prefeitura apenas a fase final: organizar e aplicar a vacina.
Um grupo de radicais personalistas, apoiadores cegos do presidente da república, recusam-se a tomar a vacina contra Covid-19 colocando em risco toda a população e combate e controle dos números da pandemia. Afinal, são as pessoas que se infectam e não o governo ou a empresa.
O outro grupo, um pouco menos barulhento na atualidade, trabalha para retornar ao poder nas próximas eleições. Neste grupo, há muitos sindicalistas professores que se recusam a voltar às salas de aula por 'medo da contaminação'.
Assim, o retorno dos alunos às escolas e aulas presenciais (ou híbridas), independentemente se em forma de rodízio ou em 100%, é o mais prejudicado. Sabe-se que historicamente as escolas são o local criado pela humanidade para educar seus membros a vier em sociedade. Prova disso é que, em tempos “de normalidade” todas as ações educativas eram atribuídas à escola, seja pelos pais, seja pelos políticos e governantes.
Nesta balança de radicalistas não cabe a maioria da população, que não está em nenhum dos dois pratos da balança e também não é peso de equilíbrio. Pois manter-se firme na decisão de levar a vida adiante.
Considerada massa de manobra por ambos os lados, embora seja em maior quantidade, esses brasileiros são atacados pelos “patrulheiros políticos” bolsonaristas e lulistas. Aliás, uma balança muito estranha já que nem os bolsonaristas são de direita e nem os lulistas são de esquerda.
A verdade é que os principais prejudicados com a politização da pandemia são nossas crianças, adolescentes e jovens que continuam sem aulas presenciais nos quatro cantos do Brasil.
A nova variante (Delta) ameaça a saúde da população que, já vacinada, acredita estar imune. Sabe-se atualmente, que o principal vetor do vírus, são os assintomáticos.
Milhares de escolas públicas de todo o país, ainda não recebem um único aluno. Em alguns municípios, mesmo já estando vacinados, os professores se recusam a retornar às salas de aula. Há muitos professores, inclusive de escolas particulares, que se recusam a tomar vacina.
Apesar dos estudos científicos realizados nos Estados Unidos, Europa e Ásia que mostram que mesmo as pessoas vacinas podem continuar a transmitir o vírus, especialmente as novas cepas. O que prova que, assim como toda unanimidade é burra, todo radicalismo, seja do lado que for, é burro.
E esta, talvez seja a mais radical das correntes políticas, pois coloca em risco, não somente a rede de assistência à saúde física, mas prejudica toda a população brasileira e, até mesmo o futuro de nossas crianças e adolescentes. Muitos vivenciando o luto dos familiares e submetidos à condições sub humanas de sobrevivência, pois é na escola que recebiam alimento para o corpo e para a mente.
Sabemos que ao longo das últimas décadas, as escolas foram sendo transformadas no único “porto seguro” para a maioria de nossas crianças e adolescentes. Para além da humanização e socialização, os brasileiros em idade escolar recebem, nas escolas públicas, independente da qualidade do ensino, a alimentação para o corpo físico e o conhecimento mínimo necessário para ingressar no mundo do trabalho.
Todo o tempo em que estão fora das escolas, desde março de 2020, estes mesmos estudantes brasileiros e seus familiares se veem entre a cruz e a espada.
A cruz do calvário para conseguir continuar aprendendo, seja por meio dos exercícios escritos feitos remotamente, seja acompanhando as aulas via internet, que não têm. Na outra ponta da encruzilhada dessas centenas de milhares de vidas, está a espada: a Covid-19. A espada é ainda mais afiada para os estudantes de famílias com pouco ou nenhum recurso financeiro.
Muitos vivenciam o luto pela perda de país, avós, tios, irmãos sem nenhum apoio externo. São os mesmos que perderam familiares, amigos, vizinhos e não tem qualquer perspectivas de ter recursos financeiros e culturais suficientes para suprir as necessidades básicas de alimentação, moradia e saúde.
Já os estudantes das classes socialmente mais favorecidas retornaram em sua quase totalidade às salas de aula das escolas privadas. E é com estes que os estudantes de escola pública vão continuar competindo no mercado de trabalho ao longo de suas vidas. Uma competição que se era desiquilibrada antes da pandemia, a partir de agora será inda mais injusta.
Com controle rigoroso das atitudes de prevenção e acompanhamento de equipes pedagógicas e multidisciplinares, estas crianças e adolescentes das classes sociais mais favorecidas financeira e culturalmente, ficaram menos de um ano em ensino on line, voltaram às aulas presenciais em sua quase totalidade. Estudos mostram que nestas escolas a contaminação é praticamente nula.
Ou seja, a escola é sim um ambiente seguro e pode ensinar a toda a sociedade como conviver com o vírus.
Estes estudantes tinham, e continuam tendo, os recursos financeiros como internet, computadores e até familiares (ou empregados) disponíveis para acompanhar e orientar seus estudos em casa. Mesmo assim, sofreram perdas na aprendizagem cognitiva, especialmente os em fase de alfabetização.
Apesar de estarem cientes das perdas na aprendizagem, há pais que optaram por manter seus filhos estudando em casa. No entanto, estudos mostram que as perdas em socialização e ´humanização` atingem a todos os estudantes, independentemente da classe social ou da modalidade do ensino adotado pela escola: on line, hibrido, remoto ou nenhuma das alternativas anteriores.
Viver em sociedade, respeitando os limites da convivência em grupo, é uma das grandes lições da convivência escolar. E é também essa característica humana, a de pensar e comunicar seus pensamentos pela fala e ações, que nos difere dos demais animais.
Estudos mostram que esta é uma das maiores perdas. Pois, saber se comportar no ambiente de construção coletiva (ou de aprendizagem coletiva) influencia determinantemente a vida profissional e social de todo e qualquer cidadão indivíduo. Há professores que acreditam que será necessária uma década para recuperar as defasagens e as perdas dessa geração de estudantes da pandemia.
No entanto, o mais grave e talvez o maior desafio, seja aceitar que apesar de todas as perdas e estudos demonstrando os benefícios, ainda há brasileiros que se recusam a tomar a vacina por razões políticas.
Depois de 16 meses bombardeados por notícias falsas e ou verdadeiras, é inadmissível que ainda não saibam diferenciar uma da outra. Estes seres, simplesmente estão cristalizados em sua posição política, a ponto de ainda acreditar em “um salvador da Pátria Amada Brasil” e de si próprio, julgando-se acima de tudo e todos.
Enquanto isso, continuamos a enterrar nossos mortos, pois o Corona vírus é muito democrático, ataca a todos de todas as idades, convicções políticas, posições sociais e convicções religiosas. As notícias nos mostram o aumento do número de infectados mundo afora pelas novas cepas.
O que deixa claro que, nesse momento, o mundo é um barco navegando por águas revoltas. Ou todos nos salvamos, ou sucumbimos no mar da Covid-19 e outras doenças decorrentes dela ou não.