Antônio Milioli Filho
Muitas das verdades e paradigmas da educação, válidos até bem pouco tempo atrás, hoje, na sociedade contemporânea deste início de século XXI, precisam ser repensados diante das profundas e irreversíveis modificações estruturais em curso. Chegamos num estágio que precisamos, permanentemente, reavaliar tudo aquilo que estamos fazendo em Educação, dentro das universidades e na realidade fora dos seus “muros”. Exemplos ajudam a elucidar.
Observando o funcionamento da sociedade produtiva, notamos desde a “morte” das máquinas de datilografia a sua substituição por moderníssimos computadores de última geração. Fazendo uma rápida leitura dos “cardápios” dos cursos oferecidos pelas escolas de terceiro grau, descobrimos que a informática e a globalização estão sepultando muitos cursos, que sumirão do cenário brasileiro e internacional, a curto e médio prazo. Por outro lado, a mesma revolução tecnológica está fazendo surgir cursos que sequer imaginávamos necessários há menos de uma década atrás.
Citando dois estudos recentes, o professor doutor Fredric Michael Litto, da Escola do Futuro da USP, diz que aproximadamente “70% das carreiras profissionais que serão importantes por volta do ano de 2010 ainda não existem” e que “mais de 50% dos egressos de universidades norte-americanas, nas últimas décadas, têm trocado de carreira alguns anos após completar seus estudos.”
E ele mesmo se questiona de como deveríamos agir no sentido de preparar os jovens que estão conosco hoje para um mundo de valores e de trabalho tão diferentes dos atuais. Nesse cenário, que ele chama de “sombrio e assustador”, não nos restaria outra alternativa a não ser preparar o aluno para ser “remador e navegador”.
Faremos isso, segundo o doutor Litto, preparando o estudante para pensar “sistêmica e ecologicamente”. A nova meta da Educação, ensina, “tem que ser não o que pensar, mas sim, o como pensar. Processos, e não produtos, são importantes no futuro, porque permitem adaptações e atualizações rápidas”. Citando Fritjof Capra, e dois de seus livros (O Tao da Física e A Teia da Vida), o pesquisador lembra que os principais problemas do nosso tempo precisam ser entendidos de forma interconectada e interdependente. E, para isso, nada melhor que recorrer às formas de pensar “holísticas” e “ecológicas” de Capra. Pensar holisticamente é aprender a pensar o todo integrado, e não fracionado, repartido.
Pensar ecologicamente é perceber a interdependência de todos os fenômenos e de como, pessoas e sociedades, estão integrados e dependentes de processos cíclicos da natureza. Este pensamento ecológico e sistêmico, segundo o professor da USP, será construído a partir do momento que forem desenvolvidas em nossos alunos capacidades básicas (leitura, redação, operações matemáticas, escuta e fala), capacidades cognitivas (pensar criativamente, tomar decisões, solucionar problemas, saber como aprender e raciocinar) e qualidades pessoais (auto-estima, responsabilidade, sociabilidade, auto-gerenciamento, integridade e honestidade).
*Antônio Milioli Filho é reitor da Unesc e presidente da ACAFE - Associação Catarinense das Fundações Educacionais.