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Jornal da Educação

Opinião do Leitor

Classes de aceleração promovem a exclusão (Edição Maio/2007)

Por Profa Dra Rossana Regina Guimarães Ramos

     Nos últimos anos, os governos vêm tentando solucionar o problema do fracasso escolar – analfabetismo – implantando diversos programas e estratégias pedagógicas. Uma delas foi a classe de aceleração, que originalmente tinha o propósito de recuperar alunos com um histórico de reprovação em virtude das “dificuldades de aprendizagem”.

     Em defasagem com a relação idade série, esses alunos eram destinados a uma classe especial, cujo trabalho pedagógico deveria ser o de recuperação, sobretudo do conhecimento da leitura e da escrita. Feita a recuperação, os alunos deveriam ser reclassificados em seus respectivos grupos, obedecendo a relação idade/série.

     Todavia, na prática, o que ocorreu foi mais um problema. Essas classes de aceleração transformaram-se, por vários motivos, em verdadeiros quadros de exclusão escolar, e que é pior, dentro da própria escola. A começar pelas práticas pedagógicas adotadas. Muitas vezes, sem o devido preparo, os professores regentes dessas turmas, aplicavam os mesmos métodos de alfabetização utilizados com esses alunos quando estavam na classe regular, ou seja, algo que comprovadamente já não havia dado certo anteriormente.

     Em termos sociais, no espaço da escola, esses alunos formaram um grupo de excluídos, tendo em vista que representavam a “turma dos fracassados”.  O futuro da maioria desses alunos é ir parar no EJA – Educação de Jovens e Adultos – carregando consigo o peso da incompetência, quando, na verdade, foram vitimados por um sistema educacional ineficiente e descompromissado.

     O resultado é portanto desastroso para ambas as partes, professores frustrados e alunos excluídos. Costumo dizer que as classes de aceleração são como “pássaros presos em gaiolas em meio à floresta”, isto é, ser considerado diferente em meio aos iguais. Vejamos então qual seria a verdadeira questão e como solucioná-la.

Debruçando-nos sobre recursos utilizados por outras ciências, como a Medicina, por exemplo, deveríamos ser preventivos, ou seja, desenvolver programas de recuperação de aprendizagem paralelos com os alunos que eventualmente apresentassem alguma dificuldade, já no início de sua vida escolar.

     Esse trabalho deve ser feito dentro e fora da aula regular contemplando as dificuldades específicas de cada criança. Ambos professores, o da classe regular e o da recuperação, devem estar preparados para identificar e criar meios de solucionar os problemas. Devem também trocar impressões sobre o desenvolvimento dos alunos em questão. O trabalho de recuperação deve ser feito no contra-turno escolar, dispensando assim qualquer possibilidade de excluir o aluno da interação com seus pares. Isto porque, com base na teoria sócio-interativista, sabemos que o desenvolvimento social e cognitivo depende das trocas realizadas entre os indivíduos.

     Agora, é urgente que nós, professores, mudemos esse quadro e partamos para novas ações que implicam mais estudo, reflexão e compromisso com a tarefa de ensinar.

 

 

*Rossana Ramos é doutora em Língua Portuguesa pela PUC/SP, diretora e professora da Escola Viva de Cotia - SP.

 
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