Luiz Gustavo Lima Freire
A criatividade enquanto capacidade do homem pensar sobre si próprio sempre existiu, embora seu estudo ordenado tenha começado a pouco mais de um século. Muitas das concepções tomadas hoje ainda representam idéias antigas e míticas dificultando seu desenvolvimento.
Uma delas é que a criatividade é um dom divino e o ato criativo um repente de inspiração; donde não faria sentido se esforçar para pensar criativamente e desenvolvê-la, já que se trataria de um desígnio.
No entanto, a atualidade exige que os indivíduos reflitam, buscando novas soluções e idéias. Os velhos procedimentos já não atendem as necessidades cambiantes modernas. Daí o imperativo do pensamento flexível e inovador, capaz de estabelecer soluções.
E ainda que não haja consenso teórico, já se pode falar de um quadro que permite conhecê-la e estimula-la melhor. Trata-se de um processo multifacetado, de nível distinto e ligado à inteligência; que envolve definição e redefinição de problemas e combinação de conhecimento anterior numa nova forma de aplicação.
Ela depende da motivação para tarefa, capacidade e conhecimento num domínio, competências cognitivas e de um trabalho concentrado e enérgico. Para ser criativo, o aluno deve acreditar em si mesmo, confiar nas suas capacidades e sentir desejo e prazer para realizar os trabalho de forma persistente, elaborada e fecunda.
A reunião de competências cognitivas, como a flexibilidade, fluência, imaginação e expressividade, é o alicerce para o pensamento criativo. A elaboração da idéia não surge do nada, mas da reacomodação de imagens anteriores. Só podemos ser realmente criativos se possuirmos conhecimento anterior.
Ela requer tempo, esforço e dedicação. Até que o produto final seja apresentado; muitas horas terão sido utilizadas e idéias terão sido selecionadas, confrontadas e refletidas.
Assim, a criatividade é uma competência do aluno auto-regulado, por este ser capaz de coordenar saberes para atingir suas aprendizagens. O ato criativo implica que se saiba o que vai ser criado e como, que se conjugue dificuldades e capacidades, elimine distrações, que o medo do fracasso seja negado e o tempo seja utilizado estrategicamente.
A intervenção pode debruçar-se sobre várias áreas. Importa porém, estabelecer uma ordem privilegiando saberes para subsidiar as operações. A escolha lógica parece a que se centra numa delas, considerando sua natureza multidimensional e interdisciplinar.
Pode-se intervir sobre pessoas, estudando os sinais da personalidade que caracterizam as mais criativas e estimulando nas outras os mesmos traços. Pode-se intervir sobre produtos, avaliando-os segundo muitos critérios, entre os quais a originalidade; embora qualquer julgamento seja relativo, condicionado histórico, cultural e socialmente e ainda que, o próprio produto seja diversificado; como um texto científico, a resolução de um problema, uma pintura ou uma idéia. Pode-se além disso, intervir sobre os processos através dos quais as pessoas demonstram a criatividade; procurando descobrir um modelo, através do confronto e comparação de estratégias.
A escola pode estimular a criatividade se promover uma aprendizagem construtiva, cooperativa e significativa; se utilizar critérios que valorizem a expressividade e originalidade; se recorrer ao conhecimento dos diversos domínios; se utilizar os processos de memorização como meio e não como fim; se valorizar a compreensão; se aplicar e combinar métodos criativos.
Para concluir, se promover uma educação baseada na conjugação e aprimoramento das motivações e nas potencialidades dos contextos. Finalmente, se estimular à auto-regulação da aprendizagem e o ensino de capacidades e habilidades para aprender ao longo da vida.
Fonte consultada:
Bahia, S; Nogueira, S. (2005) "Entre a teoria e a prática da criatividade" in Miranda, G; Bahia, S. (org). Psicologia da Educação: Temas de desenvolvimento, aprendizagem e ensino. Lisboa: Relógio D'Água, (332-363).