Escrito por Eleni Lechinski
Refletir sobre os processos de mediações no cotidiano escolar é uma tarefa a mais do professor, pois é ele que tem a responsabilidade de intermediar as informações da sua matéria. A vivência do dia-a-dia do professor e do aluno possibilita maior vínculo entre eles, logo o professor necessita conhecer os problemas sociais dos seus educandos e, a partir daí, desenvolver suas práticas pedagógicas conforme a realidade social de cada um.
O professor é autônomo na organização das atividades e nos diferentes processos de mediações. Sabe-se que o procedimento pedagógico difere de uma turma para outra, daí a necessidade de conhecer seus alunos enquanto sujeitos, que trazem do seu universo individual paradigmas e estigmas sociais de origem, na maioria das vezes, problemática. Mas, mesmo assim, o aluno vem em busca de respostas para a sua vida. O professor e a unidade escolar devem cumprir o papel social e possibilitar aos educandos aquilo que lhes é de direito.
As mediações acontecem de diferentes formas numa mesma turma, pois o universo de uma sala de aula é diversificado, temos diferentes potencialidades no mesmo espaço, uns com raciocínio mais rápido, outros, mais lento e assim a aula segue, contando sempre com a sensibilidade do "mestre professor". O professor, ao entrar numa sala de aula, tem em seu plano pedagógico já definido um processo de mediação; após sua primeira explicação, ele percebe que nem todos entenderam, aí começam as particularidades, que são justamente para aqueles que necessitam de outras formas de mediações.
A realidade hoje dos nossos educandos da EJA é a falta de tempo e as dificuldades sociais que os impedem de fazer leituras e outras atividades culturais. A partir dessa realidade o professor deve adequar o plano pedagógico para suprir a defasagem de conhecimento dos seus alunos. É interessante observar e validar seu tempo de escola e a partir do que ele já aprendeu, mesmo que muito tempo tenha se passado.
Uma outra situação comum nas salas da EJA é a auto-estima baixa dos educandos.É comum os alunos subestimarem sua capacidade, acham-se incapazes, expressões do tipo "ah professora, eu sou cabeça dura, não aprendo mais, já sou velho, etc", novamente necessitam da sensibilidade do professor e, lógico, do Paulo Freire com a Pedagogia do Oprimido. Eles costumam definir como meta para a sua sobrevivência o estilo de vida que seus pais que infelizmente na maioria das vezes, são analfabetos e trabalham em empregos de baixa remuneração. Esse quadro social dificulta a visibilidade quanto às oportunidades de trabalho. O papel do professor é fundamental e insubstituível para descontextualizar esses paradigmas e mostrar que o aluno pode sonhar e buscar outra forma de sobreviver diferente da sua família.
O bom relacionamento entre professor e aluno deve ser observado, mas nunca confundido com paternalismo. Deve ficar bem claro o papel do professor e o papel do aluno. As palavras proferidas durante as aulas não devem ter conotações pejorativas ou de interpretações erradas que, de repente, desvalorizem e desmereçam sonhos e objetivos do aluno. Esses cuidados são importantes, pois o professor exerce influência sobre seus alunos. O sucesso de uma "boa aula" deve-se à flexibilidade do plano de aula do professor e às mediações planejadas conforme a realidade dos educandos, isso vai levar ao desejo de querer aprender, a turma vai ficar estimulada.
Refletir sobre os processos de mediações em sala de aula é importantíssimo para o resultado do ensino-aprendizagem. O professor é um sujeito transformador dos processos pedagógicos, por isso precisa estar preparado e atualizado dentro das áreas do conhecimento. Tem que ser eclético no sentido de conhecer não só a área em que atua, mas também as outras, isso faz parte das várias formas de abordar os conteúdos no momento de passar para os alunos. Quando se conhece um pouco das outras áreas facilita no momento de explicar, pois podem ser usadas comparações/citações, é uma forma de mediar o assunto para que fique mais fácil de ser entendido.
Quando ouço expressões de que o professor deve ter o "dom" para estar na sala de aula, não concordo, porque acredito que essa coisa de dom está mais ligada a questões religiosas e não a questões profissionais. O que percebo no professor hoje, principalmente de escolas públicas e que se encontra órfão da sociedade, é que quase não tem tempo para planejar suas aulas, as diferentes formas de mediações são necessárias e precisam de tempo para ser elaboradas, pois dentro da sala de aula o processo é diversificado. O professor precisa também estar estimulado. Vejo muitos colegas serem criticados por alunos, com observações do tipo "não entendo o que o professor explica", fica claro que ele usa uma mediação padronizada para todos os seus alunos, mas nem todos entendem da mesma forma. No meio das contextualizações buscamos e analisamos vários métodos para exemplificar as mediações, possibilitando para o aluno o processo do ensino-aprendizagem.
As concepções da mediação pedagógica entre o processo de ensino e a aprendizagem necessitam de vários olhares no sentido de observarmos alguns elementos constitutivos da mediação: materiais, atividades e interações de formas articuladas, bem como as novas possibilidades decorrentes do cotidiano da unidade escolar quanto à sua estrutura de suporte pedagógico, que viabilize maior diversidade de mediações pedagógicas.
Os ambientes virtuais da escola promovem para o professor e o aluno o redimensionamento da mediação pedagógica, evidenciando aspectos próprios do conhecimento, que potencializam uma nova forma de ensinar e aprender. Os recursos da tecnologia, quando disponíveis nas unidades escolares, possibilitam com certeza maior diversificação nos processos de mediações do professor.
Eleni Lechinski, é professora de história efetiva da escola EEB Plácido Olímpio de Oliveira, em Joinville(SC).