Claudio Nasajon*
Você já parou para pensar que, em pleno século 21, as escolas estão ensinando nossos filhos com as mesmas ferramentas e métodos que usavam nossos avôs? É no mínimo surreal que tantos avanços da tecnologia, hoje disponíveis em brinquedos de realidade virtual, vídeo-games interativos e até em simples aparelhos de telefone celular, sejam insistentemente ignorados nas salas de aula, que continuam usando o tradicional método de escrever a matéria no quadro e depois cobrar prova em papel e lápis.
Por que não usar os filmes feitos pelo Discovery Channel para contar fatos históricos, em vez da chata preleção da maioria dos professores de história? Qual o empecilho de usar jogos interativos para ensinar a ciência dos números em vez de exigir a decoreba proposta pela maioria dos professores de matemática?
A resposta, como sempre, está no espírito (pouco) empreendedor do ser humano. Muito se fala em empreendedorismo, na importância de apoiar ações inovadoras para promover o desenvolvimento das nações, mas deixa-se de mencionar o lado menos glamouroso dessas mesmas pesquisas: apenas 5% das pessoas ousa inovar, sair da zona de conforto, adotar novas idéias; 15% ficam "em cima do muro", esperando para ver o que acontece antes de embarcar na onda; e 80% são sempre do time do "deixa como está", avessos a qualquer mudança do status quo.
No setor do ensino não é muito diferente. Certa vez a diretora da escola de meus filhos disse que estavam avaliando um projeto para implementar o ensino de inglês de uma forma mais dinâmica, usando o idioma para ensinar outras matérias em vez de apenas mostrar a ortografia e a gramática duas vezes por semana. Perguntei por que não implementar a novidade logo no próximo ano e ela me respondeu que "em educação, o ritmo é outro".
Passaram-se dez anos - meus filhos estão prestes a sair da escola para a faculdade - e o projeto continua em avaliação... e estamos falando de uma escola de elite, que consta na lista das dez melhores da cidade, cujos laboratórios de informática e ensino de robótica estão na vanguarda, mas onde matemática e história continuam a ser ensinadas da mesma forma, e em alguns casos até com os mesmos livros com os que eu aprendi trinta anos atrás.
Dizem que toda longa caminhada começa com o primeiro passo, então estou propondo que ele seja dado: vamos incentivar o desenvolvimento de ferramentas interativas de ensino! Imagine se a lista dos games mais jogados, em vez de ser encabeçada pelo CS, um jogo de terrorismo, fosse liderada pelo BR, uma saga ambientada no Brasil imperial? Que tal incentivar as escolas a apresentar sessões com vídeos da Discovery Channel e usar as aulas posteriores em debates e discussões para consolidar o aprendizado multimídia?
A tecnologia só é útil se for aplicada na prática. Já passou da hora de incluir o setor de educação na onda da tecnologia - e não apenas instalando sistemas ERP para cobrança das mensalidades ou automatização da folha de pagamento dos professores.
Estou lançando um desafio para as escolas: vamos aliar a força da tecnologia com métodos educacionais de excelência para garantir que nossos netos sejam educados de forma diferente da que foram nossos avôs. Só dessa forma, dando o primeiro passo, poderemos garantir o desenvolvimento das futuras gerações e a nossa perpetuação como nação de uma forma econômica, social e ambientalmente sustentável.
* Claudio Nasajon é diretor da Nasajon Sistemas e Presidente da ASSESPRO - Ass. das Empresas Bras. de Tec. da Informação, Software e Internet do Rio de Janeiro.