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Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas

Notícia

11/03/2019-14h05

Conheça Nathan, da graduação na Udesc Esag ao mestrado em três países da Europa

Natham em frente ao local de trabalho no governo belga Foto: acervo pessoal
Nathan da Silva Carvalho, graduado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em 2017, buscou aproveitar bem as oportunidades de cursar Administração Pública no Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas (Esag), uma das unidades da Udesc em Florianópolis. E continua aproveitando. A graduação na Udesc Esag o levou longe – literalmente. Hoje ele está estudando, pesquisando e trabalhando em sua área na Europa.

Desde o segundo semestre de 2018, Nathan está cursando o Mestrado em Ciências da Inovação no Setor Público e Governo Eletrônico, com bolsa do programa Pioneer Erasmus, da União Europeia. Cada um dos três primeiros semestres letivos se dá numa instituição (e país) diferente: em universidades de Leuven (Bélgica), Münster (Alemanha) e Tallinn (Estônia).

No quarto semestre (2020/1), ele poderá escolher qualquer país da União Europeia para escrever a dissertação de mestrado (chamada na Europa de “tese final”). “A dissertação tem que ter ligação com alguma organização, onde o mestrando faz algo como um estágio obrigatório”, explica Nathan. Em 2019/2, na Estônia, ele já terá que decidir o tópico da dissertação e então buscar o local para trabalhar e fazer a pesquisa.

Trabalho na Bélgica

Graças ao mestrado, ele também conseguiu um trabalho temporário no governo belga, em Bruxelas (não remunerado, uma vez que já recebe a bolsa) entre o primeiro e o segundo semestre letivos do curso (em abril, ele inicia os estudos em Münster, na Alemanha).

Nathan trabalha na BOSA – junção das siglas em holandês e francês (idiomas oficiais da Bélgica) de “Estratégia e Suporte” do Serviço Público Federal. A agência é responsável pelas políticas do governo belga em tecnologia da informação, recursos humanos, controle organizacional e integridade. Para outras áreas, como orçamento e contabilidade, tem papel de supervisão.

O estudante brasileiro trabalha no escritório de Transformação Digital da agência, encarregado de digitalizar os serviços públicos e integrá-los aos demais países da Europa.

Formação

A formação recebida na Udesc Esag, garante Nathan, lhe deu um bom ponto de apoio para conquistar a bolsa e encarar o mestrado fora do país. “O curso me deu uma ótima base para os estudos daqui, principalmente para matérias como Administração Pública ou Gerenciamento de Sistemas da Informação”, afirma. Mas as vantagens foram bem além das disciplinas.

O mestrando brasileiro destaca o engajamento na Esag JR, a empresa júnior da Udesc Esag, durante a graduação. “Foi um grande diferencial para ser aceito no processo seletivo [para o mestrado na Europa]”, explica Nathan. “Isso me deu uma boa base para as outras matérias e conseguir meu emprego atual. Recomendo a todos os alunos que participem da Esag JR”.

Para o mestrando, a Esag JR é só um exemplo de como aproveitar a graduação para abrir oportunidades profissionais. “Sou muito grato por ter cursado minha graduação na Udesc Esag, pelas amizades, networking, oportunidades e estudo em si, foram todos muito válidos para meu desenvolvimento pessoal e profissional”, completa Nathan.

Outra dica do mestrando aos alunos de graduação é investir nas matérias relacionadas à tecnologia de informação, o que pode ser tornar uma boa estratégia de carreira profissional. “Os governos europeus estão à procura de administradores públicos que tenham conhecimento e experiência na área de TI, para que possam aplicar as estratégias de transformação digital e digitalizar os serviços públicos”, explica. Uma tendência que deve se acelerar no Brasil nos próximos anos.

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Leia a entrevista abaixo com Nathan Carvalho, concedida diretamente de Bruxelas (Bélgica). E, quem sabe, inspire-se na experiência do egresso da Udesc Esag. Se quiser saber mais sobre o programa de mestrado, entre em contato com ele pelo e-mail nathan@oakdigital.in.

Como é seu trabalho no governo belga?

O governo da Bélgica tem essa instituição, a BOSA, e dentro dela um departamento que se chama Digital Transformation (Transformação Digital), responsável por digitalizar os serviços públicos daqui. A minha área é mais específica. Eu trabalho diretamente com o gerente de relações internacionais. Eu não trabalho diretamente com tecnologia da informação (TI), apesar de o foco do meu curso ser como usar TI para digitalizar os serviços para os cidadãos.

Em que estágio está a transformação digital na Bélgica?

O governo daqui está digitalizando todos os serviços. Os sites do governo são bem interativos. Por exemplo, aqui na Bélgica a carteira de identidade é eletrônica. Aqui você pode usar a carteira de identidade para fazer várias coisas, como o registro do filho, de forma on-line. Outros exemplos são o pagamento de impostos ou o registro de nascimento on-line. Por meio de um painel de controle digital disponibilizado pelo governo, é possível ver que a Bélgica economizou cerca de €35 milhões em 2016 oferecendo serviços digitais aos seus cidadãos.  Os serviços de todos os municípios são integrados num site único, mantido pelo governo central.

E como o departamento de transformação digital atua nessa área?

O governo da Bélgica tem uma estratégia para digitalizar a administração pública. Começou em 2015. Aqui na Bélgica os municípios (regiões), são autônomos, mas o governo central tem o papel de fiscalizar se a estratégia está coesa em todo o país. Então, uma coisa que nós fazemos são reuniões com os ministros das regiões dentro do país, para que essa estratégia seja executada de forma efetiva. Então isso é uma coisa feita internamente no país.

E essa estratégia se conecta à dos outros países europeus?

Até 2020 eles querem, por exemplo, que um cidadão da Bélgica, com sua identidade eletrônica (e-ID), possa usar os serviços públicos da Alemanha. Só que para isso eles precisam interligar todos os bancos de dados. Então, eles estão enfrentando esse desafio, os países conversando, tentando formalizar, para que isso aconteça da melhor forma possível. Eles estão estudando usar block chain, inteligência artificial, vários métodos, para ver como podem interligar esses bancos de dados entre os países. Isso é uma coisa que a gente cuida também.

Como foi sua entrada no programa Erasmus?

Eu estava à procura de um mestrado na área de e-gov (governo eletrônico). Buscando no Google por algumas opções de mestrado, o programa Pioneer Erasmus foi minha primeira opção. Quando você faz sua aplicação para o programa, automaticamente já está se inscrevendo para (embora não garanta) uma bolsa, já que o Brasil é um país parceiro da União Europeia. O curso é bem recente, minha turma ainda é a segunda. Eles aceitam estudantes com diplomas nas áreas de ciências sociais, ciências políticas, administração pública, sistemas de informação, ciências da informação, informática, engenharias, administração empresarial ou direito. Outros cursos também podem ser aceitos dependendo dos critérios de seleção. Também exigem proficiência em inglês. A inscrição para o programa deste ano acaba agora em março, mas as próximas vagas devem abrir por volta de outubro.

Seu emprego no governo belga tem conexão com o mestrado?

Sim, totalmente. Por exemplo, um dos nossos tópicos de estudo é gerenciamento de banco de dados. A União Europeia estuda soluções para integrar o banco de dados das administrações públicas dos países membros. Existe uma grande discussão sobre qual o modelo deve ser utilizado, informações a serem armazenadas, design do banco, tipo de linguagem a ser implementada etc. Foi por meio de meus professores no mestrado que fiz contato com o governo, em busca experiência na área de transformação digital no setor público.

O processo de digitalização dos serviços públicos na Europa caminha para eliminar o papel?

Sim, apesar de não ser o objetivo final, a eliminação do papel é uma consequência da digitalização dos serviços. No prédio em que trabalho, existe uma obra de arte para lembrar que a digitalização dos serviços públicos também elimina a necessidade do papel. Mas a digitalização dos serviços públicos vai muito além. Por serem serviços públicos, a digitalização deve englobar fatores sociais, econômicos, de interoperabilidade e de capital humano. O Índice de Economia e Sociedade Digital (DESI) é um dos indicadores que mede o nível de digitalização dos governos de cada país. A Bélgica se encontra em 8º lugar (na média da Europa). Já o Brasil, infelizmente, está na última posição do indicador. Em outras palavras, temos MUITO trabalho pela frente para que o Brasil seja considerando uma administração pública digital de referência.

Essa experiência dos países europeus pode ser útil para o Brasil?

No caso Bélgica, a administração pública utiliza o termo KYC – know your citizen (conheça seu cidadão). Tudo começa com a identificação dos cidadãos do país – aqui na Bélgica e na maioria dos países na Europa, a carteira de identidade é eletrônica, ou seja, quando o indivíduo precisa utilizar algum serviço público, a única coisa que ele precisa é da sua carteira de identidade, não existe a necessidade de preencher formulários, por exemplo. Isso traz uma comodidade para o cidadão e também ajuda muito na análise de dados por parte do governo, pois eles têm os dados sociodemográficos de todos os que utilizam cada serviço.

Então o banco de dados é a grande vantagem para o governo?

A identificação dos cidadãos de forma eletrônica também permite interoperabilidade entre os órgãos da administração pública. Com um banco de dados interligado, diferentes instituições podem ter acesso aos dados dos mesmos cidadãos e transformar isso em informações úteis para cada finalidade de cada instituição pública. Acredito que esse seria o primeiro passo para o Brasil caminhar para uma administração pública mais digital: identificar os cidadãos e armazenar os dados de forma inteligente, assim, os serviços digitais criados pela administração pública podem utilizar essa base de dados para operarem de forma mais eficiente.

Há discussão sobre a privacidade dos dados coletados?

Aqui, a transformação digital também é feita em parceria com a iniciativa privada. Após um processo rápido e simples, empresas de qualquer porte podem ter acesso a esse sandbox de dados que o governo retém. Isso permite que a empresa utilize esses dados para ofertar melhores produtos e serviços para os cidadãos do país, gerando uma economia mais forte. Mas é válido lembrar que os dados de cada pessoa são protegidos pela norma do General Data Protection Regulation (GDPR). Essa regulação deve ser fortemente seguida pelas instituições na Europa para garantir a privacidade dos dados dos cidadãos. As organizações que violarem a privacidade dos dados dos indivíduos estão sujeitas a sofrerem punições perante a lei.

Pretende se fixar na Europa ou retornar e aplicar seus conhecimentos no Brasil?

Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa. Aqui na Europa, existe uma procura muito grande por profissionais capacitados em digitalizar os serviços públicos e é dificil encontrar pessoas com conhecimento na área de TI e de administração pública ao mesmo tempo. Então é provável que não faltem oportunidades para ficar. Ao mesmo tempo também penso em voltar para o Brasil para possivelmente empreender e aplicar tudo que estou aprendendo aqui – as oportunidades de melhoria também são maiores atualmente no governo brasileiro.

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Assessoria de Comunicação da Udesc Esag
Jornalista Carlito Costa
E-mail: comunicacao.esag@udesc.br
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