Eglê Malheiros e seu marido, Salim Miguel, doaram
à Udesc Faed acervos pessoais de obras. Foto: Div.
A comunidade acadêmica do Centro de Ciências Humanas e da Educação (Faed), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), lamenta a morte da professora e escritora catarinense Eglê Malheiros, ocorrida na tarde desta terça-feira, 17, em Brasília (DF), aos 96 anos. Eglê mudou-se para a capital do país para ficar mais perto da família, que a ajudou a enfrentar uma doença.
O corpo de Eglê será cremado em Brasília. A família estuda a possibilidade de posteriormente trazer as cinzas a Florianópolis para realizar uma merecida homenagem ao legado da professora e escritora.
Eglê Malheiros e seu marido, o também escritor catarinense Salim Miguel, falecido em 2016, sempre mantiveram uma relação de proximidade e contribuição com a Udesc Faed. Em novembro de 2013, o centro de ensino inaugurou o
Espaço Eglê Malheiros & Salim Miguel, no prédio do
Instituto de Documentação e Investigação em Ciências Humanas (IDCH). O local guarda e disponibiliza para consulta, estudo e pesquisa o acervo pessoal do casal, composto por 9.300 livros, 267 títulos de revistas, documentos e objetos pessoais (máquina de escrever, medalhas, placas, certificados entre outros).
Os títulos dos livros em sua maioria são da área de letras, literatura, cinema e história de Santa Catariana do Brasil. Destaca-se uma coleção de livros de escritores brasileiros contos, crônicas, poesias e romances. Destaque também para obras de ficção, romances contos e crônicas de escritores estrangeiros, todas acessíveis à comunidade em geral.
Confira aqui um vídeo sobre o espaço.
"Aprendi muito sobre a mulher extraordinária que ela foi, uma mulher de resistência, de luta por justiça social. Uma mulher da poesia, das letras", afirma a coordenadora do IDCH, Fernanda Sales. "O IDCH tem um grande orgulho de ajudar a manter viva a memória de Eglê Malheiros", completa.
O diretor-geral da Udesc Faed, professor Celso Carminati, destaca a contribuição de Eglê para a cultura e a política nacional, sobretudo na resistência às arbitrariedades da Ditadura Militar no país e em Santa Catarina, quando Eglê e Salim Miguel foram presos. "Se hoje vivemos numa democracia, devemos em boa parte a pessoas como eles, que lutaram pelas liberdades. É uma honra podermos guardar o acervo pessoal doados ao IDCH", afirma.
Nova doação de livros
Dez anos depois, em 2023, Eglê fez
uma nova doação de documentos e peças para integrarem o espaço. O ato de doação foi assinado durante o evento especial que marcou as comemorações de 95 anos da escritora, realizado em 12 de julho, no Museu da Escola Catarinense (Mesc), da Udesc.
Durante a programação foram realizadas sessões de exibição do documentário "Eglê", dirigido por Adriane Canan. O filme pode ser acessado no
perfil oficial do projeto no Instagram. Em 2022, a compositora Denise de Castro gravou a
música "Valsa para Eglê", que foi trilha para o documentário.
A Udesc Faed expressa seus sentimentos a todos os familiares e amigos de Eglê Malheiros neste momento, ao mesmo tempo que presta reverência ao legado da professora e escritora em Santa Catarina.
Sobre Eglê Malheiros
Eglê Malheiros é escritora, professora e tradutora catarinense nascida em Tubarão (SC) em 1928. Em Florianópolis, foi uma das fundadoras do Círculo de Arte Moderna, conhecido como Grupo Sul, movimento que durou de 1948 a 1958 e renovou o ambiente cultural de Santa Catarina.
Eglê Malheiros cursou Direito e concluiu o Mestrado em Comunicação. Foi professora do Instituto Estadual de Educação, onde lecionou História; teve atuação em todos os momentos do Grupo Sul, onde publicou o seu primeiro livro de poemas (Manhã, 1952; Edições SuI). Mais tarde surgiram outros livros, como Vozes veladas (1996) e Os meus fantasmas (2002). Participou dos primórdios do movimento modernista em Santa Catarina, desde a publicação do jornal Folha da Juventude até a extinção do então chamado Círculo de Arte Moderna.
Com Salim Miguel, escreveu o argumento e roteiro de O preço da ilusão, primeiro longa-metragem realizado em Santa Catarina. Também atuou como co-roteirista das produções cinematográficas A cartomante e Fogo morto. Em 1964, durante o golpe militar, foi presa e afastada da cátedra de História. A família teve que se mudar para o Rio de Janeiro. Lá trabalhou como tradutora, roteirista de cinema e na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, do qual foi diretora-secretária.
Foi, também, uma das editoras da revista Ficção (1976/79). Ministrou cursos, participou de comissões julgadoras no campo da ficção, colaborou como crítica literária na imprensa. Tem trabalhos de poesia, de ficção, de crítica, em órgãos de imprensa e livros. Em 1979, voltou para Florianópolis. Retomou, por curto período, até se aposentar, a cadeira de História do Instituto Estadual de Educação.
Assessoria de Comunicação da Udesc Faed
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