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08/03/2024-13h16

Dia da Mulher: conheça a Khetllen Costa, doutora pela Udesc e premiada pela Capes

Khetllen Costa na Capes, onde recebeu o prêmio em 2023. Foto: Divulgação 
Marcando a data de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a Secretaria de Comunicação (Secom) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) conversa com a doutora em Artes Visuais pelo Centro de Artes, Design e Moda (Ceart) da universidade, Khetllen Costa. Em 2023, ela conquistou o Prêmio Capes de Tese na área de Artes - reconhecido como o maior prêmio para teses de doutorado no Brasil.

Nascida em Manaus/AM e pertencente a uma família afro-indígena, ela traz a mulher como ponto central de sua pesquisa, conectando-se com sua própria ancestralidade, vivências e narrativas autobiográficas.

O trabalho premiado, orientado pela professora Silvana Macêdo, investiga a ausência de fotos das ancestrais de Khetllen nos arquivos pessoais da própria família. Em seguida, busca por retratos de mulheres afrodescendentes e indígenas entre 1850 e 1950 em acervos históricos, apontando para a invisibilidade de retratos nos locais pesquisados.

Por fim, produz uma coleção de livros de artista, na qual dialoga também com outras mulheres artistas. Os livros desenvolvidos por ela deram origem à exposição Ressonâncias de Afetos, que neste mês será levada pela primeira vez para sua cidade natal.

Khetllen segue ampliando sua pesquisa sobre mulheres, agora no pós-doutorado em Artes Visuais da Udesc, sob supervisão da professora Sandra Favero. Nesta nova pesquisa, ela investigará o retrato de mulheres afrodescendentes e indígenas nos acervos de Santa Catarina.

Confira a seguir a entrevista com a artista e pesquisadora.

Em relação à sua trajetória pessoal e acadêmica, que significado tem para você em ser uma mulher pesquisadora e em pesquisar sobre outras mulheres?

Khetllen Costa: Ser pesquisadora me possibilitou estudar temáticas que já faziam parte do meu cotidiano de maneira mais profunda, a exemplo, do racismo estrutural, do apagamento de mulheres afrodescendentes e indígenas, do direito à memória, as quais estão presentes na trajetória da minha família. Tomar consciência disso, me fez perceber nas narrativas autobiográficas estratégias de enfrentamento, o que me convocou a atuar como interlocutora daquelas que não tiveram suas vozes ouvidas nas páginas oficiais, ou que foram anonimizadas nos arquivos históricos. Dessa maneira, busco compartilhar com essas mulheres a afetividade por meio dos trabalhos artísticos, para que seus saberes e suas vivências possam ressoar em espaços que não imaginaram adentrar.

Você cursou graduação e mestrado na sua terra natal (Manaus) e veio a Florianópolis para cursar o doutorado. Que significado tem para você ter realizado o doutorado e recebido o maior prêmio acadêmico do país, junto a outras mulheres pesquisadoras?

Khetllen Costa: A conquista do doutorado foi a realização de um sonho para mim, mas mudar de cidade e vivenciar os contrastes raciais e culturais, desestabilizou minhas estruturas. Contudo me fez entender meu lugar no mundo e minha identidade étnico-racial, isto me possibilitou encontrar meu propósito como artista-pesquisadora, que é continuar denunciando os apagamentos de mulheres afrodescendentes e indígenas, mas também devolvendo a humanidade que lhes foi tirada, seja no modo como foram fotografadas, seja no modo como foram catalogadas nos acervos dos museus.

Envolvida nessas questões, acredito que ser contemplada com Prêmio Capes de Tese foi um marco nesse processo, pois impulsiona a visibilidade dessa problemática em nosso país, além disso me senti honrada por integrar o grupo das 25 mulheres pesquisadoras premiadas da edição de 2023, tendo em vista a temática da tese, em que trago a história das minhas ancestrais, o que homenageia todas aquelas que trago em minha tessitura de origem familiar e simbólica. Além disso, gostaria de lembrar que o prêmio foi uma conquista coletiva de todas aquelas que me auxiliaram nessa jornada: orientadoras, autoras, artistas e familiares com as quais aprendi muitos ensinamentos que exponho na escrita da tese.

Na sua família, qual a relação entre as mulheres e o estudo/pesquisa?

Khetllen Costa: Eu fui criada em uma família de base matriarcal, marcada pelos desafios do contexto de periferia, caracterizado por restrição a determinados lugares, principalmente, os da esfera acadêmica, aspecto que atravessou a vida da minha mãe, uma mulher afrodescendente, que iniciou a faculdade aos 40 anos e da minha avó materna que foi atingida pela não gratuidade da educação básica no ensino público.

Diante dessas problemáticas, elas me ensinaram a importância dos estudos no empoderamento feminino, logo me incentivaram nas diferentes fases da minha trajetória acadêmica e não mediram esforços para que eu pudesse seguir na carreira profissional.

Infelizmente, minha avó Norma (1937-2018) não pôde ver a premiação da tese, que foi escrita a partir dos seus ensinamentos, contudo acredito que minha trajetória homenageia minhas ancestrais com a possibilidade de que suas vivências saiam do anonimato e possam somar com o processo de reparação histórica que é tão urgente em nosso país.

Com o prêmio, você recebeu uma bolsa de estágio pós-doutoral. Já tem em mente onde será realizado e o tema de estudo? Você pretende seguir pesquisando sobre temáticas relacionadas às mulheres?

Khetllen Costa: Escolhi realizar o estágio de pós-doutoramento na Udesc, no Programa de Pós-graduação de Artes Visuais com o estudo do retrato de mulheres afrodescendentes e indígenas nos acervos de Santa Catarina, sob a supervisão da Profa. Dra. Sandra Favero. Atualmente, pesquiso fotografias realizadas na primeira metade do século 20, com intuito de observar se os apagamentos que constatei na pesquisa anterior também permeiam os arquivos catarinenses.

Junto a isso, irei analisar como as fotografadas – minhas parentes em uma linhagem simbólica – foram representadas diante da câmera fotográfica, o que seus retratos nos contam ou até mesmo o que a ausência deles nos revela acerca do contexto histórico, social e cultural daquela época. Entre os arquivos pesquisados destaco o acervo da Casa da Memória, Museu Histórico Geográfico de Santa Catarina (IHGSC) e Acervo Virtual Silvio Coelho Santos (AVISC). A partir disso, irei desenvolver um trabalho poético que relaciona fotografia, gravura e escrita.

Sua exposição individual em Manaus inicia quando? Será com os livros de artista desenvolvidos na pesquisa de doutorado?

Khetllen Costa: A exposição Ressonâncias de Afetos reúne a coleção de livros de artistas que desenvolvi na tese, a qual abertura acontecerá dia 15 de março e ficará em cartaz até junho na Galeria do Largo, um espaço gerido pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas. A exposição conta com a curadoria de Silvana Macêdo e Ju Crispe, essa é a segunda edição da exposição que foi realizada no espaço cultural Armazém Coletivo Elza em 2022 na cidade Florianópolis. Estou muito feliz em levar pela primeira vez esse trabalho para minha terra natal e assim poder compartilhar as reflexões acerca dos saberes ancestrais das mulheres da nossa cultura que são apresentados nas obras.

Há algo mais que gostaria de acrescentar, relacionado ao Dia da Mulher?

Khetllen Costa: Acredito que o dia da mulher é um momento de homenagear aquelas que vieram antes de nós, que nos abriram caminhos diante das desigualdades estruturais, que nos atravessam, mas também é um momento de reflexão que ainda há muito para avançar, principalmente, na garantia de direitos fundamentais. Diante desse cenário, sigo com a esperança propagada por Gloria Anzaldúa (2005), escritora feminista de que somos “o broto verde que rompe a rocha. Nós persistiremos”.

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