A linha de pesquisa Análise e Gestão Ambiental busca compreender e estruturar metodologias que integrem a dimensão ambiental ao planejamento territorial e ao desenvolvimento socioeconômico. Historicamente, o planejamento no Brasil foi pautado por uma abordagem tecnocrata e economicista, na qual o meio ambiente era considerado um recurso a ser explorado, sem a devida preocupação com a sustentabilidade dos ecossistemas.
Exemplos dessa abordagem são evidentes na intensa exploração da Floresta Ombrófila Mista, onde o pinheiro brasileiro foi retirado sem considerar os impactos ambientais e sociais, e na mineração de carvão no sul de Santa Catarina, que deixou passivos ambientais significativos, degradando solos e recursos hídricos. Contudo, as novas diretrizes do planejamento territorial, apoiadas pela legislação ambiental vigente, buscam corrigir esse legado e estabelecer práticas mais sustentáveis.
Atualmente, o meio ambiente já é tratado como um elemento central do planejamento, promovendo uma abordagem restauradora dos processos socioambientais. Ferramentas como o Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEE) e metodologias de diagnóstico e análise ambiental desempenham um papel fundamental na gestão sustentável dos territórios. A implementação do ZEE exige um estudo aprofundado das vocações, potencialidades e fragilidades dos diferentes espaços geográficos, considerando aspectos ecológicos, econômicos e sociais.
Os pressupostos principais para uma metodologia eficiente de ordenamento ecológico e econômico incluem: Compreensão integrada dos sistemas ambientais e socioeconômicos; Aplicação de conceitos de ecodesenvolvimento e planejamento ecorregional; Integração de conhecimentos físicos, ecológicos, econômicos e sociais; Análise de planos, programas e projetos territoriais existentes; e Uso de metodologias cartográficas adequadas aos objetivos do ordenamento territorial.
Os órgãos governamentais brasileiros ainda transitam entre o planejamento tradicional e um modelo mais sustentável e participativo. A Análise e Gestão Ambiental se destaca ao propor metodologias para a sistematização de informações e o desenvolvimento de estratégias eficazes para o ordenamento territorial. Essa linha de pesquisa enfatiza as etapas de inventário, diagnóstico, mapeamento e análise dos processos ambientais e sociais, promovendo uma abordagem integrada entre o planejamento físico e o socioeconômico.
O avanço das tecnologias de geoprocessamento e dos Sistemas de Informação Geográfica (SIGs) representa um grande passo na sistematização e interpretação de dados espaciais. Essas ferramentas possibilitam a sobreposição de representações gráficas e cartográficas a bancos de dados geográficos, tornando a tomada de decisão mais eficiente e fundamentada. Entretanto, a mera disponibilidade dessas tecnologias não basta; é essencial que sua aplicação esteja alinhada a conceitos de ordenamento ecológico e econômico e que seja acessível às gestões municipais e regionais.
Um dos desafios para a implementação de metodologias avançadas é a estrutura precária de gerenciamento territorial em muitas regiões do Brasil e da América Latina. A maioria dos municípios não dispõe de recursos humanos e tecnológicos para aplicar metodologias altamente sofisticadas e onerosas. Assim, torna-se necessário desenvolver estratégias intermediárias que possam ser incorporadas às administrações públicas locais.
Diante desse cenário, os cursos de Mestrado e Doutorado em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental têm por objetivo formar profissionais capacitados para atuar na gestão ambiental e no ordenamento territorial. A qualificação técnica e científica adquirida possibilita aos pesquisadores e gestores compreenderem a complexidade dos territórios, articulando conhecimentos em planejamento, sustentabilidade e governança ambiental.
O reconhecimento do espaço geográfico é fundamental para qualquer planejamento eficiente. O mapeamento socioambiental, aliado a tecnologias avançadas, viabiliza uma gestão mais integrada e participativa. Com a crescente demanda por sistemas inteligentes de análise espacial e territorial, o uso de SIGs se torna indispensável, possibilitando a fusão de representações cartográficas com bancos de dados georreferenciados, o que facilita a análise espacial e a tomada de decisão em diversas escalas.
Assim, a linha de pesquisa Análise e Gestão Ambiental se consolida como um campo essencial para a formulação de políticas públicas e estratégias de planejamento territorial sustentável, contribuindo com a integração entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Ela se consolida como um campo essencial para o desenvolvimento sustentável, englobando territórios como os das unidades de conservação em suas diferentes categorias e em novos territórios para análise ambiental, tais como os Geoparques da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social, Econômico e Espacial:
Esta linha de pesquisa trata do planejamento do território, buscando soluções voltadas ao desenvolvimento social, econômico e espacial. O processo de planejamento territorial se apoia, portanto, na proposição de pesquisas que abordem, teórica e empiricamente, os processos sociais, econômicos e espaciais, tais como os desequilíbrios intraurbanos ou intrarregionais. As abordagens dessas pesquisas devem estar articuladas com os processos históricos de formação, produção e ocupação do território no Brasil, analisando as formas e estruturas estabelecidas, bem como propondo formas de intervenção voltadas ao desenvolvimento de regiões deprimidas ou estagnadas, com vistas à atenuação dos desequilíbrios sociais e econômicos materializados no território.
Esses desequilíbrios e desigualdades têm origem nos modelos econômicos e de urbanização adotados no Brasil nas últimas décadas, os quais resultaram em cidades marcadas pela fragmentação do espaço e pela exclusão e segregação social e territorial. A ausência de ações eficazes de planejamento no controle do crescimento periférico, associada à profunda desigualdade entre áreas pobres – desprovidas de urbanidade – e áreas ricas – concentradoras de equipamentos urbanos e infraestrutura – aprofunda essas disparidades, reforçando a injustiça social e inviabilizando o direito à cidade para todos.
A maior parte das áreas urbanas em todas as regiões brasileiras, inclusive no Estado de Santa Catarina, abriga algum tipo de assentamento humano precário, frequentemente distante, com difícil acesso e desprovido de infraestrutura e equipamentos básicos. Assim, em um lado do território, milhões de brasileiros permanecem excluídos dos sistemas formais de financiamento habitacional e do acesso a terra regularizada e urbanizada; em outro, principalmente nas áreas centrais das cidades, uma grande quantidade de imóveis se encontra ociosa ou subutilizada. Essa dualidade econômica e social reforça a exclusão e a segregação espacial, criando bolsões de miséria e segmentando as cidades em áreas de pobreza e riqueza (como os condomínios fechados). O território urbano se torna, assim, palco de conflitos que alimentam a violência e a segregação, dificultando o pleno exercício da cidadania e o florescimento de uma vida urbana digna e integrada.
Nos municípios de pequeno porte, com até 20 mil habitantes – que, embora abriguem menos de 20% da população nacional, representam cerca de 73% do total de municípios –, observam-se os menores índices de desenvolvimento socioeconômico, as maiores dificuldades de planejamento e gestão territorial e um contínuo acúmulo de carências sociais. No outro extremo da rede urbana catarinense se encontram as aglomerações urbanas de médio porte, que concentram empregos, poder político e índices relativamente satisfatórios de qualidade de vida, mas que vêm enfrentando um intenso processo de sucateamento das infraestruturas, esfacelamento das relações sociais e aumento da violência. Em síntese, a precariedade da vida urbana está presente em praticamente todos os municípios.
A mesma análise que se aplica às escalas urbana e intraurbana também é válida para a escala regional – outro foco de abrangência desta linha de pesquisa. Tanto o território catarinense quanto o brasileiro são amplamente marcados por profundas desigualdades e desequilíbrios regionais, que resultam em níveis distintos de desenvolvimento social, econômico e espacial. Em muitos casos, as estratégias de planejamento têm contemplado apenas os aspectos econômicos, geralmente voltados à atração de empreendimentos industriais, que geram poucos empregos e renda limitada para as regiões e/ou municípios, por meio da concessão de incentivos fiscais.
É a partir desse olhar atento sobre os territórios que as questões de planejamento são relacionadas às dinâmicas sociais, econômicas e espaciais, tendo como perspectiva um desenvolvimento que incorpore valores como democracia, cidadania e justiça social.
Além disso, torna-se cada vez mais urgente incorporar as questões ambientais ao planejamento territorial, especialmente em um contexto de crise climática e de recorrência de desastres naturais. O uso sustentável do solo, a proteção das áreas de preservação permanente, a gestão das bacias hidrográficas e o enfrentamento das vulnerabilidades socioambientais devem ser considerados elementos centrais nos processos de ordenamento territorial, garantindo resiliência urbana e qualidade de vida às populações mais expostas a riscos.
A análise crítica dos modelos de governança territorial e das políticas públicas vigentes é fundamental para a construção de instrumentos mais eficazes e democráticos de gestão do território. Isso envolve a participação ativa das comunidades nos processos decisórios, o fortalecimento das capacidades institucionais dos municípios e a articulação entre as escalas local, regional e nacional. Assim, esta linha de pesquisa contribui com a formação de um conhecimento aplicado que visa a transformar a realidade territorial brasileira de maneira justa, equitativa e sustentável.
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