Segundo dia do UniAldeias continua nesta quarta-feira com oficinas nas próprias comunidades
Guaranis debateram demandas para melhorar escolas. Foto: Maria Luisa Bettini
Famílias indígenas de 14 aldeias instaladas em cinco municípios do Litoral Norte catarinense lotaram nesta terça-feira, dia 11, o auditório do Bloco I, no Centro de Ciências Tecnológicas (CCT) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Havia desde anciãos até crianças de colo, mas quem mais se divertiu foram aquelas que já andam com as próprias pernas, capazes de circular entre fileiras de poltronas, subir no palco e brincar nos corredores.
Os adultos, por outro lado, falavam a sério, misturando português com a língua guarani e aumentando o tom das críticas aos órgãos governamentais e mesmo às instituições de ensino promotoras do evento, chamado Projeto UniAldeias, coordenado pelo Núcleo Extensionista Rondon da Udesc, apoiado pela Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Comunidade (Proex), em parceria com Universidade Federal de Santa Catarina, Instituto Federal Catarinense, Instituto Federal de Santa Catarina e Universidade Federal de Goiás.
Material didático desatualizado foi uma das queixas. Nesse ponto, uma das lideranças alertou para a existência de material produzido pelos próprios professores nas aldeias, que acaba sendo abandonado porque o governo prefere comprar “lá do centro do país”. Também reclamaram dos benefícios anunciados e não executados: “Quando diz que vai acontecer, gera esperança, mas depois a gente perde esperança e duvida de tudo”, disse um líder Guarani. Nem a Coordenadoria Regional de Educação de Joinville escapou, mas a atual coordenadora, Sônia Terezinha Leandro Paul, não quis comentar quando um dos professores indígenas lhe ofereceu o microfone.
A coordenadora do Núcleo Institucional de Ações Afirmativas e Diversidades da Udesc, Luisa Wittmann, encarou as críticas com naturalidade e franqueza: “São muitas comunidades, muita demanda, então eles sempre pressionam o poder público para que sejam atendidas, e elas geralmente não são”. E o objetivo, segundo ela, era esse mesmo. O desafio de colocar em diálogo os professores de 14 aldeias, de modo que fizessem um levantamento das demandas para serem registradas em um programa interinstitucional, foi cumprido.
Seu colega Rafael Martini, coordenador de Extensão, seguiu a mesma linha. “Foi um momento muito rico”, declarou, ao final do evento. “Sempre há momentos de confluência entre universidade e comunidades, e também muitas críticas deles em relação à inatividade do próprio Estado, que deixa a desejar em termos de fazer cumprir os direitos dos povos originários”.
Martini lembrou dois fatos que tornam ainda mais significativa a presença dos Guarani e outras etnias campus universitário. Primeiro, proximidade da data de aprovação da Resolução de Ações Afirmativas, que deve ser feita em breve pelo Conselho Universitário da Udesc. “Não basta abrir as portas da universidade e achar que os indígenas vão entrar naturalmente. Precisamos qualificar o processo para que eles entrem e permaneçam até a conclusão dos cursos”.
Em segundo lugar, o coordenador de Extensão afirmou que a mobilização das comunidades serve ainda para contrapor o discurso dominante na população joinvilense, que diz não haver “índios” no município, embora existam 14 aldeias ativas na região. “Vocês não frequentam esses ambientes”, alertou Martini, justificando em seguida a estratégia de “juntar forças entre as universidades para enfrentar o problema”. Ele fez referência à parceria entre as cinco instituições públicas de ensino superior, decisiva para a realização de um evento tão diverso e complexo do ponto de vista da logística, como enfatizaram os organizadores.
A partir desta quarta-feira, dia 12, vai ter três dias lá nas aldeias, oferecendo oficinas produzidas pelos extensionistas, a partir das demandas das comunidades. O UniAldeias adota um protocolo para registrar as demandas e também as formas de trabalhar com as populações indígenas.
Para mais informações, acesse a página do
Núcleo Extensionista Randon.
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