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Celebração e homenagens marcaram o encontro desta terça-feira do projeto de extensão Voo Livre – Universidade para a Terceira Idade, no ginásio de esportes da Udesc Joinville. O grupo celebrou o Dia do Idoso, comemorou o 82º aniversário de Hector Belmar — chileno radicado no Brasil há 50 anos e integrante do projeto desde o início das atividades, há 21 anos — e homenageou o estudante de Física Elder Jean de Paiva, falecido nesta semana por complicações da dengue.

Como se tratava de um dia especial, o maestro Anderson Nascimento trouxe o coral da Udesc para cantar junto com os idosos. O ambiente é familiar ao maestro: ele ministra práticas de canto em grupo para os integrantes do projeto. Por ser também fonoaudiólogo, Anderson considera o ato de cantar “um exercício de saúde vocal”, pois previne problemas de disfagia — dificuldade de engolir alimentos, líquidos e saliva, que acomete pessoas com mais de 40 anos. “Cantar é um ato de memorização, neurológico e articulatório”, diz o maestro, enfatizando os benefícios da atividade sobretudo para a terceira idade.

“Não somos um coral, somos um grupo cantante”, explica o aniversariante do dia, feliz por passar mais um ano rodeado de amigos. Hector é um membro ativo do Voo Livre: além de ser um dos líderes, ele ensina espanhol aos colegas, ocasião em que exercita sua língua de origem, deixada para trás por conta da ditadura de Augusto Pinochet, que dominou o Chile de 1973 até 1990. “A vida ficou impossível no Chile”, lembra Hector, “e dois anos depois do golpe viemos para o Brasil. Fomos muito bem acolhidos aqui”. Ele chegou a participar de um grupo de idosos de outra universidade joinvilense, mas não gostou da experiência. “Aqui na Udesc é diferente, é melhor, somos tratados com igualdade, não têm grupinhos e todo são iguais”, compara.

O ambiente saudável e as inúmeras atividades são os pontos fortes do projeto, segundo Hector. Além das aulas de educação física, canto, idioma, artesanato, das palestras com profissionais de saúde e das viagens, ele destaca as aulas de literatura com o escritor Marinaldo Silva, que estimula os participantes a escrever suas histórias. Dessa atividade já resultaram dois livros editados, e um terceiro já está a caminho. “Aqui temos muitas pessoas viúvas com depressão”, explica, “e um grupo como esse é o melhor remédio”.

Alegria, alegria

Enquanto os integrantes do Voo Livre comem, bebem e jogam nas mesas dispostas em uma lateral do ginásio de esportes, uma senhora de cabelo curto se destaca. Sônia Maria Ventura, de 68 anos, é a mais alegre do grupo. Mesmo sem música no ambiente, ela canta e dança a todo momento. Repõe as mesas, circula entre as rodas de conversa e, ao se movimentar, abre os braços como se convidasse as pessoas a entrar na sua felicidade.

Sônia mora sozinha. Na Zona Sul. Precisa pegar dois ônibus para chegar na Udesc, mas não falta aos encontros do Voo Livre: toda terça e quinta-feira ela vem para iluminar o rosto dos seus companheiros de jornada. Nos outros dias da semana participa do grupo da igreja e de mais um grupo de amigas. Ama tango e bolero. Trabalhou como auxiliar de enfermagem, se diz “manezinha da ilha”, mas está há tanto tempo em Joinville que já perdeu o sotaque. Sozinha? Quem vive só é a casa dela.


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